Fazer aniversário

Por Juliana Ramiro (20/8/2008)

Quando eu tinha uns 10 anos o que mais queria era ter 20, crescer. Sempre fui ansiosa, desde o primeiro ano do Ensino Médio já vinha pensando na minha faculdade, no que eu ia querer fazer para o resto da vida. Eu não mudei, ainda penso no que vou fazer nos anos que ainda me restam. Contudo, é inevitável ajustar a retina e começar a almejar coisas mais próximas.

Fazer aniversário depois dos 18 anos e da tão sonhada carteira de motorista tem outro sabor. Tudo que eu queria conquistar e que tinha idade certa para tanto eu consegui. Comecei a faculdade com 16 anos. Com 18, peguei minha permissão e comprei um carro. Com 19, vim morar na capital, no apartamento que pintei das cores que quis, comecei a trabalhar em dois veículos de comunicação, dei início aos meus projetos de “free lancer”, tornei-me jornalista antes mesmo de terminar a faculdade.

Conversando com amigos na semana do meu aniversário me dei conta que quis tanto tudo que tenho, fui tão objetiva nessas coisas que acabei deixando outras tantas para trás. Hoje, quem me conhece elogia minha maturidade. Aliás, quando falo quantos anos tenho causo espanto nas pessoas. Isso sempre me deixou com aquele ar de missão cumprida, todavia, neste mês de agosto comecei a divagar sobre o tema.

Tenho 20 anos e nunca fiz uma grande viagem, sempre estive estudando ou trabalhando muito. Aos poucos tive que abrir mão de esportes que adorava, deixei de jogar futebol com amigas, de tomar café na tia Lusa, almoçar todas as quartas na vó, de jogar sinuca num barzinho qualquer. 20 anos e nunca tomei um grande porre, briguei na rua, tive uma inimiga, quebrei o braço. 20 anos e ainda não dormi numa barraca com amigos, fiz uma fogueira e uma roda de violão na volta dela. 20 anos e, as vezes, pareço ter vindo dos 10 direto para os 20, acho que tem um filme com a mesma temática.

Todo texto tem algum propósito, isto aprendi neste pulo dos 10 aos 20. O tempo passou voando, fiz muita coisa, porém, nem tudo que queria – e que manda o manual da faixa etária em questão. Antes que eu chegue nos 40 com o mesmo sentimento de “não vivi tudo que precisava”, vou dar o pontapé inicial da minha adolescência. Nunca é tarde para se ter 20 anos e ajustar o foco da nossa vida para o presente. Como minha mãe sempre diz: vamos viver o hoje..

O que me mata

Juliana Ramiro (30-05-09)

O que me mata são os dias que se arrastam
São teus lábios me dizendo que não é a hora
Que meu amor, se for amor, saberá esperar
O que me mata é olhar para teus olhos
E eles nunca olharem na minha direção
Nem uma brecha, nem um sinal, o sim
De resto, o que importa o quanto fui especial?
Eu queria o passado, o presente, e o futuro
E o que ouço: que não é a hora
Qual é a hora? Quanto ainda vou esperar?
O que me mata é saber que eu esperaria
E faria isso se me pedisses
Mas nem isso eu tenho.

Além da janela

A distância matou a relação, mas deixou o sentimento
Hoje, o coração aperta, bate forte… por vezes se esquece
Os olhos procuram recortes de um tempo que já faz tempo
Falar teu nome é ainda viver um pouco mais da história
Sentimentos se esquecem de começar e esse não se acaba
Lembranças, presentes, frases ditas, frases feitas que nos unem
E esse continente que separa
A gente vive, segue, inventa uma parola
Mas às vezes é difícil olhar além da janela.