Ainda sou capaz de cometer uma loucura por mais um sorriso teu

Por Dimi Aguiar

Transito entre os escombros daquilo que fomos
Hoje a saudade é uma aliada, pois é o que faz recordar teu cheiro

É provável que nunca mais nos vejamos, mas disso eu ainda não abri mão
Percorro pela tua casa, tua pele e teu sono com a mesma intimidade de antes

Temo por minhas idéias, muitas vezes me desconheço
Os lugares pelos quais estivemos me são estranhos

Fico tentando salvar o que já se foi pelo mar
Pelo mar azul esverdeado, com coqueiros pela orla e o cenário do melhor amor

A dúvida do que existiu
O sentimento sufocado entre letras e notas

A última canção
O último olhar
O último abraço que não existiu

Apenas o choro que não cessou
Morro de saudade das tuas mãos
E a vontade louca de te ter, de te entender e de voltar a ser

As lembranças estão aqui em seus cantos a me perturbar
Tenho esperança da volta do teu desequilíbrio, do teu desespero por mim

Estou entregue à paixão que um dia experimentei
Ainda sou capaz de cometer uma loucura por mais um sorriso teu….

O Itororó faz parte da minha vida

Juliana Ramiro (junho/2008)

O Itororó faz parte da minha vida e, humildemente, posso dizer que minha existência contribuiu para a escola ser o que é hoje. As primeiras recordações que tenham são de quando eu tinha de três para quatro anos. Hoje, tenho quase 20. O prédio da escola era verde claro, o pátio de areia e a cerca de madeiras caídas.

Lembro que tinha uma horta no fundo do pátio, e alguns pés de bananeira. Tão plantadas na escola quanto os legumes da horta, Cilene Ramiro e Loiva Maria dos Santos, com a sineta em punho, coordenavam a entrada dos alunos.

Eu adorava a tal sineta. Ela ainda existe e é usada. Pensando agora, quantos dias fui para o Itororó, por que não tinha com quem ficar em casa, e me comportava bem em troca de alguns minutos chacoalhando a sineta da tia Loiva.

O Itororó, desde muito, é a segunda casa da minha mãe, Cilene. Por isso, acabei ganhando alguns tios e tias. Lá, coisa que não vi nas outras escolas que estudei, as pessoas são tratadas de maneira muito especial. O envolvimento de quem trabalha é além das 40, 20 horas estipuladas pelo Estado. Aquele papo de que no futuro não vão mais existir professores e escolas tradicionais, que será tudo pelo computador, parece-me absurdamente impróprio se tratando do Itororó. O bairro Ermo, a Vila Chega Mais ganham muito com a escola, que hoje já tem mais salas de aula, mais cimento do que areia, uma tela envolvendo o terreno e até a arte do grafite. Desconheço a existência de outra escola com tantos projetos envolvendo pais, alunos e professores.

Quando digo que faço parte da escola é por que passei minha vida toda andando por aqueles corredores. De início eu comia a merenda, entregava os bilhetes mimeografados. Depois, com o passo dos anos, fui vestindo mais a camisa. Fui professora voluntária de violão, montei grupo de canto, virei fotógrafa oficial, e, nas últimas formaturas, até arrisquei umas palavras como mestre de cerimônia. Mais, certamente, o que fiz de maior para o Itororó, foi entender e aceitar o envolvimento da minha mãe com as causas da escola. E, principalmente, entender que além do Rafael, eu tinha mais um bocado de irmãos que precisavam de muita atenção. Com a escola aprendi a dividir. Dividir a atenção da minha mãe, dividir meu tempo, achando horários para ajudar o Itororó..

I can’t take my eyes off you

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Juliana Ramiro (22-06/10)

Hoje, ouvindo a música “The Blower’s Daughter”, de Damien Rice, tive uma vontade imensa de voltar a sentir algo que senti no passado. Não sei se para todo mundo é assim, mas o cantor, em cada palavra dita, traz-me um desespero apaixonado.

Um sentimento desses tão grandes que a gente não come, não trabalha, não faz nada direito só pensando na dona ou dono deste sentimento. Um sentimento que a gente passa 24 horas lembrando dos pedacinhos daquela pessoa, de todos os detalhes, e vai despedaçando e compondo ela na cabeça.

Um sentimento que faz a gente precisar daquela pessoa como precisa de água, como precisa de ar, até muito mais do que a gente precisa dessas coisas. Sentimento que faz a gente chorar de rir, chorar de saudade e chorar de chorar, porque nem tudo tem explicação, a gente fica emotivo e ponto.

Sentimento que nos faz escrever, e rabiscar num papel, e achar que nenhum escrito é bom o bastante para mandar, mas a gente manda mesmo assim, porque sente a necessidade de lembrar para aquela pessoa que a gente não se esquece dela por um segundo se quer, e que a gente tem medo de ser esquecido.

Um sentimento que nos faz correr para levantar da cama, e correr para o trabalho, e correr pela rua, até poder correr para os braços daquela pessoa de novo. A gente corre porque parece que o tempo tá correndo junto. Um sentimento que nos faz perder a hora, perder a fórmula de como se respira, perder o tino, perder o prumo, perder-se num simples olhar.

Um sentimento que nos faz cantar no chuveiro, cantar no trabalho, cantar no carro, na rua, na frente do prédio daquela pessoa. Sentimento que nos faz jogar tudo para o alto, mas nunca jogar o mais importante.

Sentimento que nos faz ouvir uma manhã inteira “The Blower’s Daughter” para ter um pedacinho dele de volta..