O Último Anjo

Por Juliana Ramiro

Mais uma música. A minha música da semana. A Isabella Taviani não é tão famosa assim aqui no Rio Grande do Sul, pouca gente conhece, mas pra mim ela é tão boa quanto a Ana Carolina, que amo. As duas têm vozes lindas e letras ótimas, com sentimento, um cotidiano revelado. Recomendo.

E é uma música dela que embala o caos que se instalou nos meus últimos dias. A música é pura poesia, puro lamento e zero solução. Mas e daí? Quem disse que música tem que ser remédio? Pra mim pode ser só médico, identificando os meus sintomas, dando meu diagnóstico. E essa canção faz isso muito bem.

“Tá tão estranho aqui
Pareço desfocar o que você sorri
Por pura intuição
Se a água não correr
A lua despencar
O horizonte inteiro verticalizar
Inverter a rotação
Me traga a sua mão
Varinha de condão
Reze uma oração
Pai, filho e espírito são
Somos o meio entre o principio e fim
Fomos o freio entre o bom e o ruim
Me dê o chão pra pisar
Um coração para amar
Me trate bem
Sou um anjo caído do além
Me trate bem
Todo anjo tem medo também”

Meu horizonte essa semana tá, literalmente, vertical. Perdi meu chão, o apoio, fui injustiçada, sofri, chorei, surtei por falta de reconhecimento, dinheiro, afeto, tudo ao mesmo tempo. Nunca quis tanto acreditar em fadas para que uma usasse sua varinha e me levasse direto para a próxima semana – sim, eu ainda tenho esperança de dias melhores.

“Me trate bem, todo anjo tem medo também”

Nossa, não posso nem reescrever essa frase que já me dá um nó na garganta. Como é difícil ser forte e ser vista dessa forma. Eu não posso ter medo, não posso fraquejar e não posso desistir porque preciso manter a imagem que colei em mim. E se isso não for eu? E se eu misturei as figurinhas do meu álbum e colei tudo errado, como faço pra voltar? Como faço para saber? Eu tô sempre buscando respostas. Sem sucesso.

Até aqui, este talvez seja o post mais confuso do meu blog. Cheio de devaneios, de pensamentos, de inconformidades.

“Tá tão estranho aqui, pareço desfocar”

É isso..

“…solos tu y yo besando las heridas…”

Por Juliana Ramiro

Quem ainda não assistiu ao filme Habana Blues TEM que fazer isso. O filme é ótimo, político, romântico, sexual, musical, é tudo. Ele traz como história central a vida de dois amigos cubanos, que tem como sonho ganhar a vida como músicos.

Numa Habana empobrecida, os amigos não tem muito espaço. Eis que surge uma gringa em busca de músicos para fazer sucesso fora da ilha, claro, falando mal do sistema econômico e do governo ditatorial cubano.

Qual o preço desta fama? Falar mal da ilha é nunca mais voltar a viver nela. E a família? Amigos? Todos ficam presos no passado. Entre talvez a única chance de se tornarem músicos ou permanecerem na ilha com a família, um dos músicos compõe e canta, numa cena linda e triste, a que pra mim é a melhor canção do filme.

Tirando Cuba do pano de fundo e trazendo a música para o nosso cenário, o cenário de cada um, quantas vezes nos deparamos com situações assim dentro de um relacionamento. Quantos casais foram separados por divisas alfandegárias e por divisas criadas dentro do próprio sentimento e, principalmente, dentro da cabeça, de que a sobrevivência não seria possível?

E a música vai além. “Solos tu y yo besando las heridas”. Quantas pessoas se amam mas são tão diferentes que só o amor não dá conta de mantê-las unidas? Elas precisam de mais. E brigam. Sofrem. Se afastam. Voltam. E a cada volta beijam as feridas que deixaram quando foram embora e tentam recomeçar. E mudam de forma, e mudam de jeito. E mudam tudo, e vão assim, até que o que carregam no peito mude e deixe de ser o grande combustível deste ciclo.

O amor é o que as mantém, o que nos mantém.

 .

E faz do cyber espaço um alívio…

viciadas

Por Juliana Ramiro

Quantas e tantas Marias levam uma meia vida? E quantas viveram em plena desgraça até a chegada e popularização das redes sociais? Essas Marias fazem da internet um novo palco, onde podem ser Camilas, Luizas, e porque não Julianas. Aqui elas são livres. Sexualmente livres. Futilmente livres. Adulteramente livres.

É possível viver assim? Ser uma mulher aliviada num espaço dito, por alguns, irreal? Mas a Maria se insinua, provoca, deseja, atira, mira, atira de novo, goza, e faz tudo isso enquanto prepara o almoço.

E volta para um novo turno. E insinua, provoca, deseja, atira, mira, atira de novo, goza, coloca as crianças na cama. E dorme.

E em dias que o desejo de ter mais que metade de si aperta o peito. Offline..