Aperto nosso ponto final…

Por Juliana Ramiro

Ele pula e tremo
Ele aperta e como meus dedos
Ele grita e sigo teus passos
Ele desespera e escrevo

Ele relaxa e chego a ficar bem
Ele mexe e a calmaria se vai
Ele fala e a cabeça se esvai

Ele retorce e penso em ir atrás
Ele cresce e já não consigo compor
Ele encolhe e a dor parece pior

Ele me escapa e não consigo falar
Ele te procura e meus olhos ao cais
Ele transborda e não sou mais racional

Ele chora e volto a tremer
Ele soluça e escrevo um pouco mais
Ele pára e aperto nosso ponto final

(Ouvindo a música Telhados de Paris – versão do Nenhum de Nós).

Eu podia te esquecer

Por Juliana Ramiro

Eu podia te esquecer
E até saberia como fazer
E por onde começar

Eu começaria por aquilo que nem conheço
Pelas fotos que não tiramos
Pelas luzes que não apagamos
Pelo que tocaria no rádio
E os nossos falsetes

Eu podia te esquecer
E até saberia como fazer
O segundo passo seria o que já conheci
A tua voz aguda e angelical
A paz e o fogo que me traz
A angústia e a raiva
O teu frio e o meu fogo
Ou o teu fogo e o meu

Eu podia te esquecer
E até saberia como fazer
O terceiro passo seria apagar os teus detalhes
Não sentir o macio do teu cabelo
Nem o salgado do teu corpo
Nem o doce dos teus olhos
Ou o amargo deles

Eu podia te esquecer
E até saberia como fazer
Mas eu não quero.
Não quero..

Quem disse que os animais não nos ensinam a entender os humanos?

ana2

Por Juliana Ramiro

Minha gatinha, a Ana, esta aqui da foto, vem aprontando coisas que me deixam furiosa, mas, passado um tempo, de cabeça fria, essas coisas fazem-me pensar na nossa relação e, como sempre, vou além. Nas últimas semanas aumentei minhas atividades e pouco fico em casa com ela. E o que ela faz? Testa meus limites e me obrigada a lhe dar atenção. Na mesma semana ela comeu até quase explodir e vomitou duas vezes pela casa, começou a fazer coco fora da caixa de areia, e, na última noite, veio o pior.

Acordei com as pernas molhadas e com cheiro de xixi, logo pensei: que vergonha, voltei a fazer coisas de quando era piá, sonhar que tava no banheiro e… xixi na cama. Num exame rápido de toque descobri que aquele xixi não podia ser meu, era da ANA. Detalhes muito importantes de tudo isso – ela nunca vomitou, e nem fez suas necessidades fisiológicas fora da caixa de areia, NUNCA.

Seis horas da manhã estava eu limpando a cama, colocando as cobertas pra lavar e improvisando uma cama pra dormir até começar oficialmente meu dia. Todos podem imaginar a minha raiva, com um borrifador de água nas mãos, decidi que ela não ia mais dormir comigo, subir na cama.

Agora, passada a raiva, vejo que tudo isso, ou parte disso, é culpa minha. Quem não precisa de atenção? Carinho? Amor? E quem tem todas essas coisas e, da noite pro dia, fica sem e fica numa boa? Se eu fosse a Ana faria coco na minha cabeça pra ter a atenção que tinha antes. Quantas vezes já abri o jornal, ou liguei a TV e ouvi histórias de pessoas que foram deixadas pelo ser amado e resolveram o problema dando um fim na vida do outro, quando não na sua também.

Fico feliz de estar viva (risos). E de ter a chance de pensar na nossa relação, de entender que se eu preciso de atenção, ela também precisa. E como é importante, às vezes, parar, parar tudo, largar o dia-a-dia, abandonar as tarefas e olhar para o outro e perguntar: tá tudo bem? As coisas estão boas pra ti? Tem alguma coisa que a gente pode melhorar? Tarefa tão difícil quanto secar um colchão com xixi dentro de um apartamento que passa o dia inteiro fechado. Contudo, tentar já tem valor, já deve ser valorizado. Ter uma relação com alguém é ter um compromisso diário com experiências… experimentar, provar, fazer testes, tarefas, temas de casa, investir para fazer dar certo.

Quem disse que os animais não nos ensinam a entender os humanos? Acho que a recíproca também é verdadeira.

*Escolhi essa música porque a acho um amor, e conta um pouco do cotidiano da Ana.

 .