Ser feliz é tudo que se quer

Por Juliana Ramiro

Mexendo nos meus vídeos favoritos do Orkut encontrei a versão de uma música que já era linda, mas que de cara nova ficou ainda melhor. Paixão, originalmente cantada por Kleiton e Kledir, agora interpretada pela Cláudia Leite. Na nova versão ela ficou mais animada, mais dançante, contudo, o que sempre julguei o ponto forte dessa música foi a letra. É poesia, é sentimento, é sensação, são os detalhes de uma paixão. Detalhes que a gente tenta esconder, no entanto, sempre entrega, e se entrega muito.

“Não quero ficar na tua vida
Como uma paixão mal resolvida
Dessas que a gente tem ciúme
E se encharca de perfume
Faz que tenta se matar…”

Quem não se encharca de perfume? E faz isso para ser marcante para aquela pessoa que já nos marcou e marca tanto. E não é só o perfume, a paixão se constrói no detalhe. São os pedaços de duas vidas, de dois corpos que vão se encaixando, quanto mais encaixa mais forte é, mais se sente. Acho que na paixão não vale falar de tempo. Não é porque encaixa que vai durar mais, tempo é disposição. Paixão é mais que isso.

Pra mim a paixão dura o tempo que tem que durar, depois amadurece, envelhece e vira amor, ou some deixando lembranças. Depois de uma paixão conviver com o amor e dar valor para ele me parece tão difícil quanto ter sido jovem e, agora velho, entender que o corpo já não é o mesmo, o mundo já não é o mesmo, e já não se tem tanto tempo pela frente.

Pra quem tem fascínio pela paixão, aprender a amar o amor não é tarefa fácil, mas deve valer a pena. E deve trazer muita coisa boa. O segredo do “pra sempre”, pra mim, é quando a gente consegue amar e se “reapaixonar” pela pessoa que amamos. Fazer isso todo mês, toda semana, todo dia, toda hora. Ser um velho com a febre de um garoto. Enquanto isso não acontece fico com a paixão. Ahhh, essa paixão.

“…Vou ficar até o fim do dia
Decorando tua geografia
E essa aventura
Em carne e osso
Deixa marcas no pescoço
Faz a gente levitar
Tens um não sei que
De paraíso
E o corpo mais preciso
Que o mais lindo dos mortais
Tens uma beleza infinita
E a boca mais bonita
Que a minha já tocou…”

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Eu só queria saber remendar este rasgo

Por Juliana Ramiro

Escrevo porque minhas palavras são minhas lágrimas que escapam pelos meus dedos. Meu corpo chora e eu não consigo liberar nem se quer uma lágrima. Tenho medo. Quando a primeira delas sair, não sei o tempo que vai durar até vir à última. Estas partículas de mim eu venho guardando há muito tempo. Julguei que assim ficava mais protegida, dos outros e de mim. Essa semana ou a passa, já nem sei bem, ouvi de uma pessoa a seguinte frase:
 

“Tu ainda vais ver que só eu te amo desse jeito, com tanta verdade, e vais te arrepender por estar levando as coisas assim”.


Confesso que não é a primeira vez que escuto algo do tipo, e só hoje consegui ver tamanha sinceridade nestas poucas palavras. E é a primeira vez que dói. Eu sei que não caibo nesse amor, e até agora eu nunca soube caber ou me fazer caber, e já nem sei se tenho tal pretensão, mas eu reconheço o quão importante ele é pra mim.Mesmo que eu não consiga retribuir esse amor do jeito que ele deve ser retribuído, eu não devia ter ido tão longe, e ter feito tão triste o que um dia soube me fazer feliz.

Eu estive cega, ou sou cega. Quando parece tudo bem, tenho meus olhos envolvidos por um pano cheiro de novidade, desafio, conquista, e eu já não consigo ver nada, ou tudo que tem por trás dele. Minha sede de novidade ora me machuca, ora me diverte. Dessa vez machucou alguém que eu não queria. Eu queria saber olhar nos olhos dessa pessoa e dizer eu até gostaria que ela fosse feliz com alguém, e acho que isso até seria sincero. Só não queria que ela fosse feliz, sendo triste comigo. 

Eu queria saber parar, porque isso eu não consigo. Primeiro eu quero um beijo, depois eu quero mais tempo, quero um corpo, um desejo, um prazer, eu quero tudo, e quando chego nisso tudo….me volto pro nada. Para outro nada. Eu só queria saber fazer alguém feliz ou saber remendar este rasgo, este rasgo..

“Não sou eu que me faço voar, o amor é que me voa”

abismo

Por Juliana Ramiro

Feriado cheio de programações e paixões. Recebi um convite do meu amigo Léo para ir visitá-lo em Caxias do Sul e, no dia 2, terça-feira, fazer uma trilha em Cambará do Sul, para conhecer os Cânions de lá. Sabia que seria puxado, mais de 30 km de caminhada, no sol, sem ter muito onde parar, carregando comida e água nas costas, sem guia. Aceitei o desafio. E de lá, além do cansaço e algumas queimaduras pelo corpo, trouxe algo marcado nos meus olhos e ainda um pouco mais pra dentro.

Cheguei à ponta da primeira pedra, olhei para baixo e vi uma imensidão verde, doce e ao mesmo tempo feroz, intocável, no entanto, bem na minha frente, ao alcance de um pulo. Calma. Não entendam este pulo como uma tendência suicida, é mais que isso. Chegar à ponta da pedra, próxima daquela imensidão, trouxe-me a mesma sensação de quando me vi apaixonada pela primeira e todas às vezes.

Senti um frio me correr na espinha, um alvoroço na barriga, uma vontade de sorrir, de gritar, de abrir os braços e deixar que o vento tocasse meu corpo. Cada pedra que cheguei o mesmo sentimento, porém como uma bela novidade, sempre nova, sempre única, sempre minha.

Durante todo o caminho não pensei em voltar, ou desistir, eu queria chegar à ponta da próxima pedra, apaixonar-me de novo. Ter aquela paixão forte, ardida, dessas que nos fazem largar tudo, e se acostar com quase nada, mas precisar sempre de mais. Eu tive sede, e mesmo sem água eu teria seguido na trilha, minha sede por aquele sentimento, naquele momento, era maior que qualquer outro desejo.

Hoje, já acostumada com a falta da paixão, penso que se tudo que eu me apaixonasse fosse como um Cânion eu estaria feliz. Apaixonar-se por gente é a certeza de mais um ADEUS. A gente se apaixona, a paixão vai embora sem nem nos avisar, e as pessoas vão com ela, na mesma velocidade e frieza. A paixão que senti na ponta da pedra, eu posso voltar para buscá-la, sempre que quiser refazer a trilha, a escolha é minha, e ela vai estar sempre lá, a espera de meus olhos.

“…Não sou eu que me faço voar, o amor é que me voa
E atravessa o vazio entre nós pra te dar a mão
Não sou eu que me faço voar, o alto é que me voa
Meu amor é um passo de fé no abismo em seu olhar…”

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