Existe arrependimento sincero?

Por Juliana Ramiro

Estou numa semana daquelas que olho para a minha gatinha, a Ana, e penso que o mundo seria melhor se todas as relações humanas tivessem um pouco dela. A Ana é sempre verdadeira, transparente. Olho pra ela e sei se tá feliz, triste, cansada, incomodada com algo. Depois de tanto confiar nos humanos, vejo que dar créditos a um animal vale mais a pena. Sei que todos os bichos não são iguais – existem gatos traiçoeiros. Mas a Ana não é assim, gosto desse jogo limpo. Ela faz coisas que eu desaprovo, e grito com ela. Entende que não gostei, e vem se chegando, de mansinho, se rolando na minha frente – sua forma de pedir desculpa. E sei que tá sendo sincera. Pisou na bola, todo mundo pisa.

ESTOU FALANDO DE UM ANIMAL. Dizem que o ser humano é mais inteligente que os animais, sendo assim, conversar com um, apontar seu erro e ele entender, me parece algo natural. É? NÃO. O ser humano é egoísta, mesquinho, sujo. Embora seja um ser que depende boa parte da vida de outros para sobreviver, assim que consegue viver sozinho, esquece sua origem e joga sozinho, doa a quem doer.

Uma pessoa viver sozinha eu não vejo problema. Vivo. Acho que todo mundo, em algum momento da vida, anseia seu espaço. Agora morar sozinho é diferente de pensar só em si, como se estivesse sozinho no mundo, como se seu umbigo fosse o palco, e todo o resto, fantoches. ISSO EU NÃO ADMITO.

Uma pessoa que passa por cima de todo mundo, que pisa, humilha, machuca, envolve, morde, bate, e faz tudo isso com um número considerável de pessoas lhe dizendo que isso é errado, feio, sujo, pode, sinceramente, um dia se arrepender de tudo isso? E esse arrependimento é porque Deus é justo e faz ela pagar pelo que fez, ou essa pessoa se arrepende pelo que causou para os outros? É uma questão de onde aperta SEU sapato ou os sapatos alheios?

Não consigo acreditar na sinceridade de um arrependimento tardio. Por que algumas pessoas precisam chegar ao limite de tudo, pra resolver voltar atrás? E todo mau que causaram? Todo sofrimento que deixaram? Como fazer vista grossa a tudo isso e PERDOAR.

Uma pessoa assim merece perdão? Que valor tem o perdão humano? O perdão humano não seria só uma forma de fazer com que essa pessoa possa deitar em seu travesseiro e conseguir dormir tranqüila, feliz e perdoada, enquanto as feridas que deixou continuam arregaçadas? Eu não consigo entender a ingratidão humana.

Acho que a gente é ingrato, principalmente, quando é criança. Lembro que minha mãe fazia o almoço, em tempo recorde, porque já tinha mais um turno de trabalho pela frente, e eu reclamava da comida, não queria comer. Muitas vezes ela chorava, triste com a minha atitude, e aquilo partia meu coração de tal forma, que tudo que eu queria naquele momento era me causar uma dor maior, para que pudesse de alguma forma pagar por aquilo. E eu me batia, me apertava, socava a parede, e dizia pra mim que nunca mais seria daquele jeito. E confesso que até hoje, às vezes, me sinto ingrata, mas nos primeiros sintomas de ingratidão, já tento reverter o jogo. E é por isso que não consigo entender como as pessoas podem ser tão ingratas, e de tantas formas, e por tanto tempo, e deitar a cabeça no travesseiro e dormir.

Isso tudo me causa uma revolta, um nó na garganta. Seja a ingratidão comigo ou com qualquer outro inocente..

Dinheiro traz felicidade

Por Juliana Ramiro

Antes de mais nada, gostaria de me desculpar pela ausência de posts nas últimas semanas. Final de semestre, ainda não consegui terminar a faculdade, então novembro é o mês D.

Tive que entregar meu projeto de monografia e lutar para ter a orientadora que realmente confio para meu trabalho. Deu tudo certo. Mais uma vez pelo caminho mais penoso, porém TUDO CERTO.

Eu não costumo falar em dinheiro, embora desde muito cedo tenha aprendido seu valor. Meus pais se casaram muito jovens, muito cheios de sonhos, de vontade, mas com pouca grana. Quando eu e meu irmão nascemos a coisa ficou mais apertada ainda. Posso dizer que tive uma infância humilde e, dentro daquela realidade, feliz.

O valor que dou para o dinheiro devo aos meus pais. Quando tinha uns 6 para 7 anos, eles estipularam uma mesada de 10 reais para mim e meu irmão, e nós deveríamos administrá-la até o próximo começo de mês, sem chamadas extras. Eu não fui daquelas crianças que ganhavam dinheiro para merenda na escola, fazia minhas refeições todas em casa. Nem fui daquelas que ia ao supermercado com os pais e colocavam tudo no carinho e, se algo fosse negado, abriam a maior goela e faziam um verdadeiro circo. Tanto eu quanto meu irmão aprendemos a pedir as coisas e entender quando o dinheiro tava curto. A mãe sempre conta que meu irmão pegava uma bolachinha recheada na mão e dizia: Mãe, esse mês tu tens dinheiro pra eu levar uma bolachinha? Se ela dizia que não, ele largava na prateleira e seguia agarrado no carinho.

Sempre tive uma visão empreendedora e um gosto mais barato. Meu irmão pegava o dinheiro dele e comprava um boné, que depois seria vendido para os amigos pela metade do preço, ou dado. Já eu dividia meu dinheiro nas semanas do mês, e toda semana, ia numa bazar “1,99”, a maravilha da minha infância, e comprava um brinquedo novo, ou uma peça de roupa. Uma vez apareci com um chinelo imitação de Rider, daqueles que era impossível correr com eles, porque não tinham a tira para prendê-los entre os dedos do pé. O fato de eu ter comprado meu próprio chinelo me encheu de orgulho. Na época não entendia muito bem aquela sensação, mas como era boa, seguia fazendo coisas para senti-la. E, claro, o que sobrava das compras no 1,99, juntava e comia de bala no bar da escola, como toda criança.

E foi essa sensação boa, de ter as minhas coisas, fazer minhas escolhas, e administrar minhas finanças, que me acompanhou por toda adolescência. E assim que pude, consegui meu primeiro estágio. E com o primeiro salário comprei um taco de sinuca importado, profissional. E mesmo que esse taco, hoje, não me sirva pra nada, na época foi gratificante poder entrar na loja e escolher o taco do meu gosto, que cabia no meu bolso, e pagar por ele, depois de um longo mês de trabalho.

De lá pra cá, estou com 22 anos, é isso que tenho feito. Batalhado pelo meu dinheiro e gasto ele com coisas que me fazem feliz. O dinheiro não traz felicidade? Traz sim. Traz felicidade para quem sabe ser feliz. E eu sei.

E fico feliz de ir ao shopping e poder comprar um presente de natal para minha mãe. Um presente não. O presente que eu acho que ela merece, que combina com ela. Poder dar esse mimo a ela me faz feliz.

E meu dinheiro não compra amigos, mas me dá a oportunidade de visitar os meus que estão distantes. E de encontrar os que estão por perto, de me divertir com eles.

E meu dinheiro não me dá cultura, mas me permite ir ao cinema, comprar livros, ir ao teatro.

E meu dinheiro não me bastaria para ser feliz, mas realiza alguns dos meus sonhos, e me traz cada vez mais sensações boas. De deixar a casa numa zona e voltar sentindo aquele cheirinho de limpeza, de simplesmente decidir ir, ir para qualquer lugar, por qualquer motivo, e ter o meio de chegar lá e voltar. Tantas coisas. Tantas sensações.

Repito, o dinheiro traz felicidade para quem sabe ser feliz..

Questões da semana

Por Juliana Ramiro

1 – Porque todo dia de verão parece final de semana?
2 – Porque toda vez que a gente paga uma conta chega outra?
3 – Porque as oportunidades vêm todas ao mesmo tempo?
4 – E porque a gente abraça o que dá e o que não dá também?
5 – Porque tudo na faculdade tá marcado pra novembro?
6 – Porque quanto mais se precisa de tempo, mais coisa se tem pra fazer?
7 – Porque as pessoas nos surpreendem positivamente, mas negativamente também?
8 – E porque o lado negativo pesa tanto e incomoda tanto na cabeça?
9 – Porque as melhores festas acontecem no mesmo dia?
10 – Porque os amigos e os programas chegam todos ao mesmo tempo?
11 – Porque uma coisa tem que depender de outra, que depende de outra, e é impossível conseguir fazer uma lista de tarefas para serem feitas em ordem?
12 – Porque gastar R$ 12 com um trabalho que vai para uma gaveta?
13 – Porque o aluno dedicado paga pelo desistente?
14 – Porque a gente só tem 48 horas de final de semana?
15 – E porque quando se pensa em ir pra praia chove, quando se decide ficar na capital a previsão é de 32 graus?
16 – Porque eu não consigo parar de buscar respostas enquanto o mundo semi-desaba na minha cabeça?

Quem quiser juntar suas questões as minhas e aumentar a lista, sinta-se a vontade!!!.