De mudança

Por Juliana Ramiro

Faz tempo que ando longe do blog por que na minha vida parece que tudo acontece exatamente ao mesmo tempo. É final de semestre, estou cheia de atividades por fazer, coisas novas no trabalho, um freela por terminar, um carro para negociar, um apartamento novo aguardando minha mudança e toda a arrumação pós-ela. É luz, é internet, é sofá, é cozinha por vir, roupeiro de já chegou, tomadas por instalar, tudo provisoriamente aguardando por mim.

No meu último banho na casa antiga, enquanto me secava e passava o único creme que ficou de fora das malas, vendo pela porta aberta a casa vazia, comecei a pensar nos significados de uma mudança. Quando a gente se muda opta por algo novo, opta por deixar coisas pra trás. E eu deixei.

Meu apartamento antigo foi minha primeira mudança, a única casa que tive em Porto Alegre. E nele recebi pessoas que nem falo mais, e amigos que me ajudaram na primeira mudança e até hoje estão na minha vida. Recebi postais, dos que foram viajar e contas, preço das minhas conquistas. Nele pude entender o valor de se ter liberdade, e apreciar tal condição.

Na minha antiga casa aprendi a lavar roupas, consertar canos, instalar spots de luz. Aprendi a fazer estoque de papel higiênico, a limpar a geladeira, e a desenvolver paciência com os vizinhos. Naquela casa deixei lembranças. As visitas, os carinhos, os choros, as alegrias, os muitos trabalhos.

Já vestida, após meu último banho, vou até o quarto, agora vazio, e vejo que o que dele sobrou foi a janela e a árvore, que descobri há pouco, mas que aprendi a apreciar. Nesse momento pensei que deveria sentir saudade. Não senti.

As pessoas que falo me desejam felicidade na casa nova, que essa conquista seja para minha alegria, meu crescimento. E mesmo com tudo que deixo para trás não consigo me imaginar infeliz, seja aqui ou em qualquer lugar.

Não sei sentir saudade do passado, acho que a cada dia a vida fica melhor, o sol se abre mais brilhante para mim. O passado não me dá saudade, sou apaixonada pelo meu presente. E por escolha minha, o futuro será melhor, para que eu não precise sentir saudade do que se foi.

Eu vou ser feliz aqui, na minha casa, essa foi a escolha que fiz. Onde estiver a felicidade estará comigo, a carrego entre as minhas malas..

O preço de ser diferente

Por Juliana Ramiro

Todo pai deveria se orgulhar de ter um filho diferente. Na vida, não é o que acontece. O diferente sofre, não é compreendido. Há uma guerra de forças entre pais e filhos diferentes. Os pais tentando fazer os filhos mais iguais, os filhos tentando fazer com que os pais valorizem sua diferença.

No trabalho o diferente é reconhecido. Na faculdade, também. O diferente é aquele que os amigos elogiam o empenho, a força, a determinação. O diferente é aquele que é pego sempre de exemplo de luta, de espelho. Até os pais de filhos comuns usam os diferentes para estimular seus filhos normais. Só mesmo o pai do diferente não é capaz de aceitá-lo.

Eu sou diferente. Eu não usei drogas na adolescência para ser rebelde. Não andei com grupos barra pesada. Não fui mal na escola. Não repeti de ano. Não matei aula. Não fiz 10 anos de pré-vestibular. Não troquei de curso na faculdade, por indecisão. Sempre soube o que queria. Não rodei em nenhuma cadeira. Não usei roupas indecentes. Não fui a sabonete da cidade. Não namorei caras sem futuro. Não transei com um professor no ensino médio. Não matei aula. Não peguei o carro sem pedir. Não aprendi a dirigir antes dos 18. Não engravidei com 18. Não completei 30 anos morando e sendo sustentada por meus pais. Não fiz escolhas cômodas. Não culpei meus pais de nada. Não fiz terapia.

Hoje, com 22 anos de idade, muitas pessoas me elogiam pelas escolhas que fiz, pelas dificuldades que passei e passo, por onde cheguei. Muitas pessoas reconhecem meu esforço e minha diferença como algo bom. Já ouvi muito “é difícil encontrar alguém com a tua idade e tua maturidade, tuas conquistas”. Estes elogios e apoio só não vem de quem eu mais queria.

Este é o preço de ser diferente. Viver esperando compreensão de quem passou 22 e vai passar outros tantos tentando me colocar na forma do comum..

Onde está o leão?

Por Juliana Ramiro

Dizem que quanto mais velho se fica, mais a gente se aproxima do nosso ascendente. Vai perdendo as características do nosso signo e ganhando uma nova forma. Pois a vida me trouxe uma nova teoria. Ou talvez seja apenas uma mutação particular, minha.

A dor me aproximou do meu ascendente. Sofrer me torna cada dia mais Peixe. Onde está o Leão que me habitava? Onde está sua força? Minha força? Nossa força? Onde está a coragem? A determinação? Aquele sentimento de poder SIM ter tudo que quero? Onde foi parar o Leão que ruge, que assusta, que protege, que se comporta como o Rei da Selva, e possui a postura de rei?

Onde está o Leão que controla e cuida da vida dos habitantes de seu reino? Onde foi parar o Leão que serve de porto seguro para família, amigos, amores? Onde está o Leão que todos orgulham-se e que eu me orgulhava de ser?

Nunca me senti tão Peixe. Um Peixe pequeno, restrito ao mundo das águas, passando meus dias remando de um lado para o outro sem um rumo certo. Um Peixe que pode ter as melhores intenções, mas sem braços, nunca conseguirá acolher os seus. Um Peixe que não é temido, tão pouco admirado. Um Peixe frio, molhado, presa fácil para outras tantas espécies. Sinto que a qualquer momento posso ser devorada por um pássaro, ou mamífero, por homens. Um Peixe de olhos saltados e tristes. Olhos inchados de tanto alimentar o seu próprio meio – água. Um Peixe frágil, acovardado, que tem boca, mas não fala, não grita.

No auge da minha existência Peixe, eu só queria recuperar, nem que fosse a juba do Leão que fui.

 .