Por Juliana Ramiro
Todo pai deveria se orgulhar de ter um filho diferente. Na vida, não é o que acontece. O diferente sofre, não é compreendido. Há uma guerra de forças entre pais e filhos diferentes. Os pais tentando fazer os filhos mais iguais, os filhos tentando fazer com que os pais valorizem sua diferença.
No trabalho o diferente é reconhecido. Na faculdade, também. O diferente é aquele que os amigos elogiam o empenho, a força, a determinação. O diferente é aquele que é pego sempre de exemplo de luta, de espelho. Até os pais de filhos comuns usam os diferentes para estimular seus filhos normais. Só mesmo o pai do diferente não é capaz de aceitá-lo.
Eu sou diferente. Eu não usei drogas na adolescência para ser rebelde. Não andei com grupos barra pesada. Não fui mal na escola. Não repeti de ano. Não matei aula. Não fiz 10 anos de pré-vestibular. Não troquei de curso na faculdade, por indecisão. Sempre soube o que queria. Não rodei em nenhuma cadeira. Não usei roupas indecentes. Não fui a sabonete da cidade. Não namorei caras sem futuro. Não transei com um professor no ensino médio. Não matei aula. Não peguei o carro sem pedir. Não aprendi a dirigir antes dos 18. Não engravidei com 18. Não completei 30 anos morando e sendo sustentada por meus pais. Não fiz escolhas cômodas. Não culpei meus pais de nada. Não fiz terapia.
Hoje, com 22 anos de idade, muitas pessoas me elogiam pelas escolhas que fiz, pelas dificuldades que passei e passo, por onde cheguei. Muitas pessoas reconhecem meu esforço e minha diferença como algo bom. Já ouvi muito “é difícil encontrar alguém com a tua idade e tua maturidade, tuas conquistas”. Estes elogios e apoio só não vem de quem eu mais queria.
Este é o preço de ser diferente. Viver esperando compreensão de quem passou 22 e vai passar outros tantos tentando me colocar na forma do comum..