Love In The Afternoon


Por Juliana Ramiro

Quando a gente resolve passar por uma mudança, seja interna ou externa – como trocar os móveis e a distribuição deles na casa -, a gente sempre se depara com o novo e resgata coisas que ficaram no passado. Esquecidas, perdidas, ocultas, ocultadas. Numa mudança é inevitável viver o novo e reviver o velho, um pouco do que fui, do que tive, do que gostei.

Um título em inglês, uma letra em português. Love In The Afternoon, interpretada pelo grande Renato Russo, faz parte do meu passado. Desde muito nova escuto essa música e ela sempre me trouxe um único sentimento: medo.

Medo de morrer jovem de mais, de perder alguém que gostava muito, de sentir muita saudade, de ter lembranças de tempos felizes, que nunca vou poder resgatar. Medo da vida passar ligeira, de ser levada pelo vento e não saber direito o que foi feito da minha juventude. Se realmente fiz as escolhas certas. E se elas vão me levar pra onde achei que iria.

“Quando eu lhe dizia:
“Eu me apaixono todo dia
E é sempre a pessoa errada.”
Você sorriu e disse:
“Eu gosto de você também.”
Só que você foi embora
Cedo demais…
Eu continuo aqui
Com meu trabalho e meus amigos
E me lembro de você em dias assim
Dia de chuva, dia de sol
E o que sinto não sei dizer.”

Hoje, um novo pensamento me surgiu. Nunca tinha pensado que esta música poderia comportar a narrativa de uma paixão que terminou, não exatamente pela morte, porque as pessoas não precisam perder a vida pra ir embora, mas porque elas morrem do jeito que foram idealizadas por tal paixão.

A gente se apaixona por alguém que imaginamos ser alguém. Costumo pensar que se a gente conhece muito uma pessoa, se torna incapaz de se apaixonar por ela. A paixão vem sempre antes. A gente se apaixona por aquilo que queremos ver, por aquilo que pensamos ser, por aquilo que idealizamos ser possível acontecer.

E claro, embora com o sangue mais frio a gente consiga perceber que foi exatamente isso que aconteceu, quando o sangue ferve a gente cai no mesmo erro. É a mesma paixão que mudou de remetente. E os mesmos cacos que foram deixados para trás.

Às vezes dá saudade? Claro. E em mim dói. Principalmente por saber que minha obra, quem criei para me apaixonar, diante dos meus olhos, NUNCA MAIS SERÁ A MESMA.

E o que sinto? Não sei. Só lamento por teres mudado para meus olhos cedo de mais, cedo demais..