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Eu quisera (uma adaptação)

Por Juliana Ramiro

Eu quisera entender teus códigos
E reconhecer teus limites

Eu quisera não precisar das tuas palavras
E, por vezes, saber não ouvi-las
Quisera receber-te de forma incondicional
E saber me respeitar um pouco menos
Eu quisera trair a mim

E proteger o que é nosso

Eu quisera que tivéssemos nascido um
Ou que não morrêssemos por ser dois
Eu quisera pensar no teu melhor
E que conhecesses o meu
Eu quisera padronizar minhas emoções
E me entregar de jeito óbvio
Eu quisera peneirar meus sentimentos
E transbordar só o que te agrada
Eu quisera não ser eu
E quisera não te ver partir
“O inverno vai passar, e apaga a cicatriz”

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Marque um “x” e garanta já o seu diploma

Por Juliana Ramiro

Aula de teorias da comunicação. Professor chega, faz cara de sacana, a chamada, põe o saco de provas junto ao peito, vai para frente do antigo quadro negro, hoje atualizado para branco, e espera o fim do alvoroço para passar as últimas informações antes de eu sentir minha formação entrando pelo cano.

Palavras dele: prova objetiva, são cinco questões, cuidem os “pega ratões”, não olhem para os lados, não colem, a prova é rápida, porém vocês não podem terminar e sair, esperem meu sinal. Só não levantei e fui embora porque olhei para os lados e vi que meus colegas jornalistas pareciam conformados com aquilo que, para mim, era mais que um absurdo. Fiquem com a maioria, fazendo meu próprio advogado do diabo.

Para que serve uma teoria? Para que serve uma prova objetiva com “pega ratões”? Afinal, para a avaliação de um professor universitário o que interessa mais é o quanto eu não sei de um conteúdo? Ou, ainda, o quanto consigo decorar e estar tranquila no momento da prova para não cair num obstáculo pouco teórico?

O conteúdo da prova, em folhas de xerox, chegou a mais de 200 página. Tratando-se de teorias, umas cinco. Considerando-se a aplicação desse conteúdo, igual a zero. Do que me adianta decorar uma teoria sem ter um acompanhamento na sua aplicação? Esse é o tipo de coisa que a gente não aprende lá fora, no mercado. Jornalista que não se tornar pesquisador vai morrer sem fazer a aplicação de uma teoria, ou, no mínimo, aprender no período da monografia o que não viu na formação inteira. Para mim, está tudo errado.

O valor de aprender uma teoria está no quanto a gente consegue aplica-la, não?! Simplesmente falar sobre teorias tem algum valor curricular? Teoria boa é teoria citada. E aqui uso aspas de mim mesma, pois acredito que minha forma de ver o ensino é, no mínimo, mais adequada que a utilizada nesta disciplina. “Professor preguiçoso, profissional pobre” (isso daria um título de livro), lamenta Ramiro (2012), que está no último ano da faculdade de jornalismo e não esperava ter esta última decepção pré-formatura.

Ei, Famecos, avancemos no processo de educação como na evolução do quadro negro. Superemos o negro, avancemos o verde, cheguemos ao branco, ensinemos a pensar..

A gente só sabe a importância de um mecânico quando perde um amigo

moto

Por Juliana Ramiro

A Max Motos, sem o Max, fica literalmente só motos. Essa foi a sensação que tive ao entrar na oficina onde levei minha primeira moto, há anos e, mesmo me mudando três vezes de endereço, e trocando algumas vezes de moto, lá sempre foi a minha oficina. Não sou uma consumidora fiel, seguidora de marcas, sou uma apaixonada por pessoas.

O Max me ganhou logo na primeira visita. Meu mecânico era prepotente, mas aquele tipo de pessoa que pode ser, por simplesmente ser. Nunca saí de lá sem respostas, sem broncas e sem rir muito do jeito dele, do meu e das soluções imediatas para tudo. Eu era uma curiosa com o cara mais disposto a ensinar que já conheci. Colocava minha moto no “elevador” e me apontava tudo, cada coisinha. Na cabeça dele, eu precisava entender tudo, para saber como me comportar em caso de alguma emergência.

Ele era como eu, adorava problemas pela oportunidade de encontrar a solução e ganhar uma salva de palmas. E quanto isso custava? O justo. O resto, o show todo, ele fazia com gosto. Dava pra ver nos seus olhos o amor que tinha pelas motos, pelo trabalho. Vivia ali e, mesmo sendo o chefe, estava sempre sujo de graxa e fazia questão de mexer na minha moto. Eu o via como o oráculo da oficina. Não sabe? Pergunta para o Max. E trate de manter as ferramentas no lugar, ele odeia bagunça.

Como um pai, ficou “p” da vida quando teve que me buscar em Canoas, com a correia da moto trancada na roda no meio da BR. Não me cobrou nada, mas veio o caminho inteiro e o tempo que colocava a correia no lugar me dando bronca porque eu não tinha lubrificado a correia, porque não estava fazendo a manutenção direito, por tudo que podia ter acontecido. Quase uma hora de bronca, moto pronta, em posição de partida, Max me entrega o capacete, a chave e, como de costume, diz: dá-lhe pau!

Quando finalmente decidi trocar minha primeira moto, comprada sem a supervisão do Max, ele foi o primeiro a querer ajudar, fez uns três telefonemas, ajudou a escolher, trouxe a moto nova, o financiamento, vendeu a minha lata, como dizia, e cuidou de todas as revisões.

Quando vendi fiquei um ano sem moto, sem aparecer na oficina, sem o Max. Comprei meu brinquedo mais recente e a primeira revisão fiz questão que fosse com ele. E ele estava lá, no mesmo lugar, lembrava meu nome e me entregou a moto impecável, como sempre. Lembro que quando deixei lá ele tinha dado uma saída, porém, quando voltei para buscar ele que me entregou e fez questão de me dar mais uma bronca. A pastilha do freio estava quase no ferro. Max me disse: “Mandei trocar, vai dar uns 60 reais a mais. Paga que é para tua segurança, não ia te deixar sair daqui com o freio naquele estado”. Paguei, levei a moto, e saí de lá com o coração apertado.

Max não tinha mais a mesma vitalidade, estava magro, caminhando com dificuldade. O brilho no olho era o mesmo, mas o brilho da vida não mais. Hoje, fui trocar o óleo e tive a resposta que não queria, a uma pergunta que demorei quase todo o tempo que tive por lá para fazer.

Busquei o óleo e não tinha ninguém para me indicar qual era o melhor e mais em conta. Quis trocar a viseira do meu capacete e não tive ninguém para dar um pitaco no modelo, cor, investimento. Onde estava o Max? O Max não está mais aqui, faz dois meses. O tempo quase que exato da última vez que apareci por lá. Nosso último encontro foi uma despedida. E vendo a Max Motos, sem seu personagem mais ilustre, o Max, pude entender a importância de um mecânico, do meu mecânico. Perdi um amigo..