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Quem disse que os animais não nos ensinam a entender os humanos?

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Por Juliana Ramiro

Minha gatinha, a Ana, esta aqui da foto, vem aprontando coisas que me deixam furiosa, mas, passado um tempo, de cabeça fria, essas coisas fazem-me pensar na nossa relação e, como sempre, vou além. Nas últimas semanas aumentei minhas atividades e pouco fico em casa com ela. E o que ela faz? Testa meus limites e me obrigada a lhe dar atenção. Na mesma semana ela comeu até quase explodir e vomitou duas vezes pela casa, começou a fazer coco fora da caixa de areia, e, na última noite, veio o pior.

Acordei com as pernas molhadas e com cheiro de xixi, logo pensei: que vergonha, voltei a fazer coisas de quando era piá, sonhar que tava no banheiro e… xixi na cama. Num exame rápido de toque descobri que aquele xixi não podia ser meu, era da ANA. Detalhes muito importantes de tudo isso – ela nunca vomitou, e nem fez suas necessidades fisiológicas fora da caixa de areia, NUNCA.

Seis horas da manhã estava eu limpando a cama, colocando as cobertas pra lavar e improvisando uma cama pra dormir até começar oficialmente meu dia. Todos podem imaginar a minha raiva, com um borrifador de água nas mãos, decidi que ela não ia mais dormir comigo, subir na cama.

Agora, passada a raiva, vejo que tudo isso, ou parte disso, é culpa minha. Quem não precisa de atenção? Carinho? Amor? E quem tem todas essas coisas e, da noite pro dia, fica sem e fica numa boa? Se eu fosse a Ana faria coco na minha cabeça pra ter a atenção que tinha antes. Quantas vezes já abri o jornal, ou liguei a TV e ouvi histórias de pessoas que foram deixadas pelo ser amado e resolveram o problema dando um fim na vida do outro, quando não na sua também.

Fico feliz de estar viva (risos). E de ter a chance de pensar na nossa relação, de entender que se eu preciso de atenção, ela também precisa. E como é importante, às vezes, parar, parar tudo, largar o dia-a-dia, abandonar as tarefas e olhar para o outro e perguntar: tá tudo bem? As coisas estão boas pra ti? Tem alguma coisa que a gente pode melhorar? Tarefa tão difícil quanto secar um colchão com xixi dentro de um apartamento que passa o dia inteiro fechado. Contudo, tentar já tem valor, já deve ser valorizado. Ter uma relação com alguém é ter um compromisso diário com experiências… experimentar, provar, fazer testes, tarefas, temas de casa, investir para fazer dar certo.

Quem disse que os animais não nos ensinam a entender os humanos? Acho que a recíproca também é verdadeira.

*Escolhi essa música porque a acho um amor, e conta um pouco do cotidiano da Ana.

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Meu eu em você


Por Juliana Ramiro

Mais um dia que uma música me faz viajar na vida, num sentimento. Victor e Léo, dupla sertaneja romântica, Meu Eu em Você. Podem dizer que eu sou brega, caipira, cafona, o que quiserem, o fato é que não monto meu playlist por artista ou estilo musical. Vou ouvindo tudo que posso e seleciono algumas canções pelo que elas me trazem – letras, ritmos, interpretações. Cada uma com seus pontos fortes e fracos. Peço que não tenham preconceito, sigam lendo… ouvindo… e depois digam se valeu ou não a pena.

Já tinha ouvido essa música outras vezes mas nunca escutado o que ela tinha pra me dizer. Sim, acredito que as canções têm sempre algo a nos dizer, e que não é numa primeira audição que conseguimos captar. Viagem minha ou não, destaco o grande final como a melhor parte.

“…Sou teu ego, tua alma
Sou teu céu, o teu inferno a tua calma
Eu sou teu tudo, sou teu nada
Minha pequena, és minha amada
Eu sou o teu mundo, sou teu poder
Sou tua vida, sou meu eu em você…”

Sentimento. Amor. Quantas vezes a pessoa que amamos é a nossa redenção, nos leva para o céu num abraço, e já no estante seguinte, numa briga, o nosso inferno, a nossa fonte de ira, de raiva. Passado um tempo, as mesmas mãos que empurraram, que apontaram a saída, que bateram a porta, voltam e se entrelaçam nas nossas costas nos devolvendo a calma, e, novamente, nos apontando o caminho do céu.

Como o amor é um sentimento complicado. E não há como negar que ele caminhe junto com um companheiro bem oposto. Tudo que sentimos quando nos dizemos amando, assim, do nada, some, deixando no lugar sensações muito contrária. Contraditório.

Contraditoriamente sublime é o amor. É sofrido e alegre, simples e ao mesmo tempo quase incompreensível. Alguém pode ser tudo pra gente, e a gente pensa que sem essa pessoa é impossível respirar direito, viver. E, ao mesmo tempo, sabemos que a tal pessoa não é nada demais, porque antes dela existir, existia vida, ar, luz, trajetória, existia história.

“Sou meu eu em você”

Juntos somos nós, mas quando eu for embora será que você será você de novo? Eu espero deixar algo de mim por onde passo e sempre trago algo do caminho.

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“Quem deixou a segurança de seu mundo por amor”

Por Juliana Ramiro

Semana passada, sexta-feira, a minha sexta da preguiça, fiquei na cama até às 11h e acabei, não sei bem por que, lembrando da música “O mundo anda tão complicado”, do Legião Urbana. A canção é linda e fala do cotidiano de um casal. Pra quem não conhece, clica no vídeo e vai ouvindo, enquanto lê o post.

“Vem cá, meu bem, que é bom lhe ver
O mundo anda tão complicado
Que hoje eu quero fazer tudo por você
Quero ouvir uma canção de amor
Que fale da minha situação
De quem deixou a segurança de seu mundo por amor”

Essas duas estrofes são as finais da música e quero destacá-las porque acho que falam muito bem de algo que a pouco passei a compreender e valorizar. Por muito tempo tive sérios problemas em manter qualquer relação que era baseada no convívio. As pessoas me cansavam. Minha sede pelo novo me fazia perder o interesse.

Passei muito tempo buscando a pessoa perfeita, os amigos perfeitos, os colegas perfeitos, os amores perfeitos. Em vão. As pessoas que criei na minha cabeça só existiram enquanto eu pude fantasiá-las na minha cabeça. Pessoas de carne e osso têm carne e osso e muita humanidade. O ser humano é imperfeito. E uma relação entre dois, duplamente imperfeita.

Tive amigos que pareciam os amigos perfeitos. E os que mais me decepcionaram. Hoje, opto por amigos que são os melhores naquilo que é vital para uma amizade: sinceridade e respeito. Eles podem não viver comigo, não gostar das coisas que gosto, no entanto, são fiéis e sei que posso contar.

Já tive amores que gostavam das mesmas coisas que eu, tinham a mesma idade, ouviam as mesmas músicas, começavam a comer uma trufa pelo mesmo pedaço. E pra que tudo isso? Meus amores mais importante tiveram pouco a ver comigo mas me amaram muito e foram os que mais me fizeram crescer, e os que trago comigo até hoje. Reconheço que deixei de aproveitar essas pessoas porque via nelas algo que não era o que eu tinha idealizado. Lamento.

“Quero ouvir uma canção de amor
Que fale da minha situação
De quem deixou a segurança de seu mundo por amor”

Hoje não busco mais amores perfeitos, e, aos poucos, estou aprendendo a valorizar quem não é. Estou vendo nas imperfeições algo para lembrar, para rir, para contar. Estou me interessando por alguém de carne e osso, e vendo o brilho que gente assim pode ter. Estou descobrindo que a mesma pessoa pode ser interessante todos os dias, porque sempre haverá um gesto novo, uma história, ou o velho carinho, a velha atenção, e o velho olhar, que a essa altura já é mais do que revelador.

Estou aprendendo a sair da segurança do meu mundo por amor. E feliz..