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Onde está o leão?

Por Juliana Ramiro

Dizem que quanto mais velho se fica, mais a gente se aproxima do nosso ascendente. Vai perdendo as características do nosso signo e ganhando uma nova forma. Pois a vida me trouxe uma nova teoria. Ou talvez seja apenas uma mutação particular, minha.

A dor me aproximou do meu ascendente. Sofrer me torna cada dia mais Peixe. Onde está o Leão que me habitava? Onde está sua força? Minha força? Nossa força? Onde está a coragem? A determinação? Aquele sentimento de poder SIM ter tudo que quero? Onde foi parar o Leão que ruge, que assusta, que protege, que se comporta como o Rei da Selva, e possui a postura de rei?

Onde está o Leão que controla e cuida da vida dos habitantes de seu reino? Onde foi parar o Leão que serve de porto seguro para família, amigos, amores? Onde está o Leão que todos orgulham-se e que eu me orgulhava de ser?

Nunca me senti tão Peixe. Um Peixe pequeno, restrito ao mundo das águas, passando meus dias remando de um lado para o outro sem um rumo certo. Um Peixe que pode ter as melhores intenções, mas sem braços, nunca conseguirá acolher os seus. Um Peixe que não é temido, tão pouco admirado. Um Peixe frio, molhado, presa fácil para outras tantas espécies. Sinto que a qualquer momento posso ser devorada por um pássaro, ou mamífero, por homens. Um Peixe de olhos saltados e tristes. Olhos inchados de tanto alimentar o seu próprio meio – água. Um Peixe frágil, acovardado, que tem boca, mas não fala, não grita.

No auge da minha existência Peixe, eu só queria recuperar, nem que fosse a juba do Leão que fui.

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Parece que tudo é e foi dela

Por Juliana Ramiro

A cama estendida, meus sapatos dentro do armário, os pijamas dobrados, a pasta de dente, os pratinhos dos gatos cheios de comida. A escova no banheiro, ao lado da minha, a louça no escorredor, a pasta que organizo meus papéis, os bilhetes no mural, os filmes de um dia de molho. A barra de chocolate no balcão, o meu coração, a minha alegria, a minha casa.

É difícil ficar com todas essas coisas perto e longe do principal. E mesmo que nada disso existisse, ainda tenho lembranças, carinhos, conchinhas, abraços, histórias, sorrisos, risos, choros, planos e sentimento.

É impossível apagar tudo isso e não quero. É impossível não sentir falta. É impossível não lamentar pelo caminho. É impossível sorrir como antes. É impossível não lutar para ter o que é meu e tudo que é dela de novo.

“Vejo a vida passar sem graça
No vazio dessa casa
Fico a imaginar, você parece estar aqui
Pode ser que eu esteja sonhando demais
Só eu sei quanta falta você me faz” (Fábio Jr.)

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Eu finjo ter paciência

Por Juliana Ramiro

Com gente burra. Com gente que não sonha alto. Com quem não vai atrás de seus sonhos. Com quem vive aparentemente feliz. Aparentemente rico. Aparentemente cheio de amigos. Com quem não se dá conta que passou. Que é passado. E que passado não é só uma nomenclatura, mas um tempo que já não existe. Com quem mente para si mesmo. Com quem não sabe fazer escolhas. Com quem julga sem olhar para o próprio umbigo. Com quem leva tudo ao pé da letra. Com quem acredita cegamente em religião, política, ideologia, ou o que seja. Com quem não tem argumento. Com quem fala mal, mas quando precisa “paga pau”. Com quem se aproxima das pessoas por necessidade. Com quem não admite que sua vida não é tudo isso para aí sim poder fazer diferente. Com quem diz ser cheio de amigos, mas senta numa mesa de bar sozinho. Ou com desconhecidos. Com quem torce para que relacionamentos terminem para não se sentir tão encalhado. Com quem não admite seu peso, sua altura, seu cabelo, sua existência. Com quem coloca inocentes no mundo e os renega como se tivessem culpa. Com quem abandona a família. Com quem espanca os filhos. Com quem trai a si mesmo. Com quem mente que ama. Com quem mente olhando nos olhos de quem quer que seja. Com quem agride a mãe. Com quem faz maldade. Com quem não sabe amar. Com quem maltrata inocentes. Com quem baixa a cabeça para tudo. Eu finjo ter paciência com quem sabe que é algo do que escrevi até agora e não faz nada para ser diferentes..