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Com a mala pronta

Por Juliana Ramiro

Calma. Não estou indo embora, ainda.

É bom finalmente ter um tempinho de passar por aqui e colocar umas idéias na rede. Agradeço pelas cobranças de novo post que recebi, tais gestos mostram que tenho quem me leia. Agradeço mesmo, de coração.

Mas vem cá, o que significa para você estar com a mala pronta? Quando era criança, uma mala pronta me deixava imensamente feliz. Minha família nunca fez grandes viagens, mas o pouco dinheiro que economizávamos o ano inteiro, passado o natal, garantia nossas malas prontas na frente da porta da sala: íamos veranear em Presidente, Mariluz, Imbé, Tramandaí. Certa vez fizemos as malas no inverno, naquele ano conheci a Serra Gaúcha e o Natal Luz. Meus olhos infantis nunca tinham presenciado tamanha iluminação e magia. Refizemos mais duas vezes o passeio, até o tempo regular minha retina e dar um banho de realidade na luz de Gramado e a deixar quase sem brilho.

Com uns seis anos, além das malas na porta, encontrei toda nossa mudança. Estávamos, eu, o Rafa e meus pais, indo para a casa da frente. Mais uma mudança feliz. Era uma casa maior, “de material” e eu teria um quarto só meu. Era o começo do meu mundo, do meu desejo de ter um pedaço de terra em que o que fosse dito por mim era lei. Nessa época comecei a aprontar malas menores para passar finais de semana na casa das tias, dos amigos, da vó. Lembro que a função de pensar em tudo que iria precisar e ter o cuidado de não deixar nada para trás, além de fazer caber o máximo no mínimo espaço me davam uma sensação muito especial.

Com 18 anos, outra vez vi as malas prontas na porta da frente. Dessa vez, não eram nossas, minhas, eram somente do pai. Meus pais estavam se separando e lembro que essa foi a primeira vez que malas prontas não me pareceram algo bom, não estava feliz, tive medo. Com o passo do tempo pude perceber que aquelas malas, na época, podiam ter sido arrumadas com certa tristeza de todos, mas que, sem dúvida, passado o susto, todos estávamos felizes e prontos para as próximas malas que vinham chegando.

No mesmo ano, aprontei minhas malas e dei início a realização do meu primeiro grande sonho, aquele que nasceu com o quarto só meu na casa nova. Estava indo morar em Porto Alegre. Num primeiro momento, a mãe veio comigo, para se certificar que ficaria tudo bem, que eu estava pronta para dominar meu território, administrar o tão sonhado espaço onde faria minhas leis. E por quase cinco anos, com altos e baixos e muito aprendizado, mantive o trono e o reinado. Nesses anos fiz as malas algumas vezes para conhecer outros lugares, países, pessoas.

E nesse tempo todo, a sensação de grande felicidade ao ver uma mala pronta fez parte de mim, dos meus sonhos de criança às minhas realizações de recém adulta. Hoje, finalmente consigo entender o que de fato significam malas prontas para mim. Elas são o sinal de uma mudança. Mudança de casa, de estado civil, de ares, de emprego, de vida.

Sou aquele tipo de pessoa que onde pára cria raízes. Não sei ser meio amiga, meio profissional, meio proprietária, meio amante. Sou aquele tipo de amiga que abre a casa, que considera irmão, defende, faz planos, sonha junto. Sou aquele tipo de profissional que tem a mesa repleta de badulaques, que faz da empresa uma espécie de lar, que constrói laços e se esforça sempre para realizar o trabalho cada dia diferente, diferentemente melhor. Sou aquele tipo de proprietária que mexe no bem, deixa-o com um jeito próprio, propriamente meu. Sou aquele tipo de amante que participa, ajuda, quer conhecer cada pedaço, surpreender, entender coisas que até mesmo o ser amado não compreendeu sobre si mesmo.

Enfim, sou do tipo que entra no jogo para jogar, que sugere fazer o pão e coloca a mão na massa. E as malas prontas? Para gente intensa feito eu, as malas prontas significam uma rápida e indolor retirada. O mundo gira e minhas malas estão sempre prontas para girar com ele, comigo. Posso me dizer fácil de criar raiz. E posso dizer que minhas malas prontas sempre me levaram para uma realidade mais feliz.

E dessa vez e da próxima, e da próxima, e da próxima… NUNCA SERÁ DIFERENTE.

“Tenho um sonho em minhas mãos
Amanhã será um novo dia
Certamente eu vou ser mais feliz”.

Trânsito é inteligência e educação

Por Juliana Ramiro

Meu blog normalmente tem um tom mais romântico, apaixonado… Desta vez senti necessidade de mudar um pouco o foco. Vou falar de amor, no entanto, do amor ao próximo. Amor fruto da educação, dos valores que fomos imersos quando crianças e jovens. Não é a primeira vez que leio “avatares” nas redes sociais criticando agentes de trânsito que se escondem para multar por excesso de velocidade, “metendo pau” na Lei Seca, comparando ela com a impunidade de um assassino. Frases como: “O cara bebe e é tratado como criminoso; o cara mata e consegue fugir” são recorrentes, revelando, no fim, um quadro de plena inversão de valores.

Enquanto trabalhei como instrutora de aspirantes a motorista, tentei, nos nove dias de aulas teóricas as quais são submetidos, passar para eles que o trânsito é construído por cada um. Enfiar a chave na ignição, acionar a mistura COMBUSTÍVEL + FAISCA + AR, engatar a primeira marcha e arrancar com o carro não são ações meramente químicas, motoras e mecânicas. Ingressando neste processo, o cidadão passa a ser responsável por todas as vidas que cruzarem sua frente, lados e costas.

O problema do trânsito está na dificuldade do ser humano de criticar o próprio umbigo. Olhar todo mundo olha. Agora, apontar, criticar, revolucionar é bem mais complicado. A maioria dos condutores quando recebe uma multa em casa logo pensa: “Quem foi o filho da “mãe” que me pegou, na certa ele estava escondido, como não o vi, vou recorrer, deve ter algo errado.” Dá para contar nos dedos quem recebe a multa e pensa: “Preciso avaliar minhas atitudes no trânsito, dessa vez minha imprudência só resultou numa multa, mas podia ter sido uma vida.”

Pagar quase mil reais de multa por ser pego dirigindo bêbado é muito caro? Você conseguiria pensar em quanto custa a vida das pessoas que ama? Mil reais será que paga a vida de um ser humano inocente? Ou será que sustenta a família que ficou sem sua principal fonte de renda e ainda vai ter que bancar infinitos remédios e tratamentos para manter um aleijado fruto da irresponsabilidade alheia?

Quem muito se preocupa com agente de trânsito escondido, o alto valor da multa por teor de álcool no sangue e tantos outros temas que rolar pela web, é porque está deixando de se preocupar com o principal. Se eu andar na velocidade permitia faz diferença se o agente está presente, escondido ou não? Se eu não dirigir bêbado faz diferença o valor da multa? Quem nunca cometeu uma infração de trânsito que atire a primeira pedra. Errar é humano, ser responsável pelo risco que expôs a si e aos outros é ser cidadão. Não persistir no erro é papel de todo cidadão consciente e educado..

Da boa educação

Por Juliana Ramiro

O tal post do final do ano, neste ano, saiu um pouco atrasado, mas no momento certo. Antes de pegar a estrada e passar quatro dias maravilhosos com minha mãe e amigos estava mais preocupada em arrumar as malas e programar a melhor maneira de aproveitar o feriado do que fazer o balanço daquilo que o tempo deixou no passado. Já em casa, de volta ao trabalho e a rotina, sigo com algumas coisas que vivi nesses 4 dias indo e vindo na minha cabeça. Tais pensamentos me ajudaram a selecionar os pontos de partida daquilo que quero falar sobre 2011.

Amizade. Crescimento. Família.

Falando de amigos, posso dizer que foi um ano bem interessante. Conheci pessoas ótimas, renovei laços, refiz laços e me livrei de falsos amigos. Sigo com saudade dos que estão longe, e saudade dos que optaram por estar longe mesmo perto. Pensando nessas relações todas, já consigo perceber o meu crescimento. Perdoar um amigo e deixá-lo seguir suas escolhas, tendo plena certeza que aquela está longe de ser sua melhor opção de caminho eram atitudes que jamais imaginei ser capaz de ter, mas tive. Isso ainda me custa um pouco. Meu lado protetor grita frente ao erro e ao perigo. Fico com as pernas trêmulas, o coração apertado, triste, sem saber exatamente como me comportar.

Falando mais um pouco do meu crescimento, para os que acreditam em horóscopo, estou cada vez mais meu ascendente, o peixe. Meu sangue não ferve tanto, não tenho mais tanta necessidade de ser o rei da selva, não espero mais tanto das pessoas, desisti de esperar sempre uma recompensa e que os outros sejam tão firmes como eu. Acho que com os anos estou ganhando peso, cabelos brancos e um novo jogo de cintura. A repetição da palavra “tanto” e suas variações indica que ainda preciso evoluir mais.

Por fim, falando da minha família, quero agradecer pelo amor mas, acima de tudo, pela educação que tive. Hoje li um matéria que falava de um pai que, antes de morrer, entre várias iniciativas, escreveu uma carta para os filhos, com 28 lições de vida. De lá, destaco duas:

Evite rebaixar alguém para outra pessoa; isso só vai fazer você ser visto como mau. Se você tiver um problema com alguém, diga a ela pessoalmente. Suspenda fogo! Se alguém importuná-lo, não reaja imediatamente. Uma vez que você disse alguma coisa, não pode mais retirá-la, e a maioria das pessoas merece uma segunda chance.

Seja cortês, pontual, sempre diga “por favor” e “obrigado”, e tenha certeza de usar o garfo e a faca de maneira correta. Os outros decidem como tratá-los de acordo com as suas maneiras.

Como isso falta para as pessoas. Como tem gente que se sente menos e precisa avacalhar com os outros para se sobressair. Como tem gente rude, mal educada, que pensa que “é bonito ser feio” e que o mundo tem que agüentar porque “esse é o meu jeito”. Como tem gente sem noção, que não aprendeu nem a ser um bom vencedor, que dirá um bom perdedor. Para mim, isso tudo vem de casa e do quanto uma pessoa é capaz de crescer em cima da reflexão de uma lição. Então, agradeço aos meus pais por todas as lições dadas e ao meu cérebro e suas capacidades de entender tais ensinamentos e, de forma toda especial, pela sua capacidade de mandar-me respirar ao invés de falar.

Fecho esse post dizendo que minha frase para 2012 será:

Aprenda com quem tem mais, doe para quem tem menos..