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Categoria de textos escritos pela autora do blog.

Um bom motivo

Por Juliana Ramiro

Um bom motivo. Afirmação que antecede e, ao mesmo tempo, sugere a resposta a um convite.

Me beija? Me dá um bom motivo.

Sempre existirá um motivo ou um bom motivo para que algo aconteça? Sempre existiram motivos pulando das bocas para os ouvidos, movendo o restante dos corpos? Para tudo na vida tem um bom motivo? Motivos são argumentos ou justificativas? Motivos são respostas de quem não sabe o que ou por que responder? Tudo precisa mesmo de um motivo? E quando não existirem mais motivos, quando se esgotarem ou forem imersos pela vontade? Os motivos saem sempre da boca? É por isso que não me beijas?

“You can take everything I have
You can break everything I am
Like I’m made of glass
Like I’m made of paper
Go on and try to tear me down”.

Cada vez mais poeta

Por Juliana Ramiro

Alguns banhos de chuva e se torna inevitável. Até a casca mais dura fica um pouco mole. Andei levando uns banhos, não só de chuva, mais de arte, de sentimentos, das relações humanas, enfim, banhos da própria vida. Guardei até agora. Os extrapolo aqui.

Idéias novas pedindo passagem, mágoas que pareciam estar vencidas, mas que chegam e vão entrando sem bater na porta. Dia após dia vou lambendo cada ferida e, mesmo sem a ajuda de algum remédio, vou tentando costurar o saco de retalhos que me tornei, frente a cada lembrança, cada verdade, cada realidade que topei.

Não me considero a pessoa mais limpa, mas tenho certeza que a mais suja não sou. Inocente, creio na cura e na mudança do outro, além de na minha própria mudança. Sou incapaz de acreditar nos meus erros. Penso que vou morrer sem considerar que meu coração por vezes, muitas vezes, tantas vezes se enganou, deixando fazer morada amigos e amantes que não deveriam nem ter passado pela minha estrada.

Ou talvez devessem. E tudo que hoje parece um erro foi acerto. E tantos acertos me fizeram o que sou, deram vazão a minha força, aos meus devaneios, aos meus anseios, sentidos e a minha arte. Pena não poder dividir e destrinchar tantas coisas com as pessoas que amo. Uns não dão assunto, ou não entendem, outros preferem não participar de certas coisas.

A verdade é que me sinto cada vez mais poeta. Um poeta louco, extrapolado, que escreve, escreve, escreve… e termina mais um dia incompreendido, sozinho e calado.

“É chato chegar a um objetivo num instante
Eu quero viver nessa metamorfose ambulante
Do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo”.

Eu matei o amor

Por Juliana Ramiro

Li uma crônica do Carpinejar que é o tipo de texto que seu efeito costumo relacionar com uma partida de futebol para quem perdeu a forma e há muito não joga. O cansaço vem logo nos primeiros instantes, mas a dor, a dificuldade de caminhar, de se mexer, o arrependimento de ter ficado tanto tempo parado ou de ter entrado nessa aventura de novo vem sempre com 48 horas de atraso.

O texto do Carpinejar defende a teoria de que nós assassinamos o amor. O amor nasce para ser infinito, mas nós, no dia-a-dia, com palavras erradas, gestos mal interpretados, atitudes mornas ou quentes demais, é que determinamos seu fim.  Logo nas primeiras linhas do texto do autor já veio o desconforto, mas, a dor de ter lido tal verdade atingiu seu ápice passadas 48 horas, quando um forte sentimento de culpa bateu na minha porta.

Quantos amores lamentei que tivessem chegado ao fim?! Algumas vezes, acreditei que era a velha história da pessoa certa na hora errada. Mentira. Agora a ficha caiu, olho-me no espelho e vejo uma perfeita serial killer e tenho até um modus operandi . É sempre do mesmo jeito, nunca é diferente.

Sei exatamente como matar o que trago no peito e quando me dou conta estou construindo a mesma teia. É genético, as mulheres da minha família há algumas gerações agem do mesmo jeito. Somos feito aranhas, sempre construímos a mesma teia.

Alguns me recomendariam terapia. Desculpa, mas embora sofra com minha herança genética, tenho certo apreço por ela. Não fazemos mal a ninguém além de nós e o amor. Mas quem nunca assassinou um amor que atire a primeira pedra. E meu texto termina aqui. Sou réu confesso, contudo, sem mais..