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Todas as cartas de amor são ridículas E DAÍ?

Por Juliana Ramiro

Ela é um parque de diversões. Uma “jovem-senhora” cheia de detalhes, cores, alegrias, medos, pessoas, histórias, muitas histórias. Tenta ser prosa, reta, correta, completa e suficiente em si, sem margem para divagações, mas acaba sendo sempre, para mim, muito mais verso.

Daqueles versos que nunca acabam em si, que cada um leva um pouco consigo, uma interpretação própria. Daquelas poesias que se pode ler todos os dias e que sempre vai se ter algo novo, alguma mensagem. Daqueles versos que sempre te emocionam de um jeito diferente, e diferentemente bom. Ela seria meu livro de cabeceira, durante anos, para não dizer pela vida toda.

Falar dela e não falar da sua agenda é um pecado. Tudo está lá, até o que foge dos planos. Dona da arte de dizer, dizer e não dizer nada e, no estante seguinte, contar uma história numa única frase, ela é felicidade garantida. E garantida porque sabe perceber o outro, sabe agradar, respeitar, pegar no colo, puxar a orelha, dividir o peso, dividir um domingo, uma cama, uma semana, uma vida.

Só posso terminar minha descrição dela, dizendo da minha felicidade de ter alguém assim na minha vida.

Todas as cartas de amor são ridículas E DAÍ?.

Coisas que aprendi na vida

Por Juliana Ramiro

Histórias de amor duram apenas 90 minutos, no cinema um pouco mais. Lasanhas de microondas menos que isso e são feitas em 15 minutos. O tempo é sempre relativo, apaixono-me num instante, passo a vida tentando apagar o momento. Cada um sabe o que quer ser quando crescer. Poucos são os que realmente vão atrás disso e de todo resto. Amores são sempre possíveis e possivelmente vão acabar um dia. Amigos são a família que a gente escolhe e aumenta e encolhe ao longo dos anos. A verdade está sempre na boca de um peixe, não na minha, não na tua. Mentiras, mesmo que sinceras, interessam sempre e sempre mais a quem mente… e só. A chuva nem sempre lava tudo e nem sempre leva o que tentamos proteger. Poesias são sempre sensíveis e sempre deixam alguém sem entender. Nossos pais são porto seguro, mas é grande o número de pessoas que preferem Salvador. A vida nos prega peças e nós quadros pelas paredes da vida. Atitudes nos trazem esperança, e ter esperança nos traz mais atitude. Ninguém é bom o bastante que já não tenha esquecido a hora de calar. E esquecido da importância de ouvir. A hora do relógio nunca se repete, porque nunca será igual. Ter mais que ontem e menos que amanhã é o lema de quem não desistiu de si. Para uma amizade dar certo o segredo é a soma da terra com dois regadores cheios de água, um só não adianta. Num relacionamento muito mais do que sentir é preciso “regalar”. Nenhum domingo de chuva precisa ser cinza. A mistura comida pra fome, comida pros ouvidos, comida pros olhos e comida pro coração dão cor a qualquer dia preto. Todas as cores juntas acabam virando preto, o segredo é ir adicionando as cores num processo lento, pouco misturado, curtindo o arco-íris antes que o preto aponte. Todos nós temos tijolos e cada um faz o que quer com os seus. Eu construo casas, enquanto outros, muros. E existem aqueles que guardam a vida inteira sua pilha de tijolos, com medo do amanhã. E o amanhã chegou e eles não têm nada. Todos nós construtores temos obras e uma obra em comum: a vida. Há quem chore de triste. Há quem chore de rir. E há quem nem saiba a beleza de chorar. Há quem dê um sorriso com a metade da boca. Há quem seja feliz pela metade. E há quem busque de forma incessante a felicidade plena e não saiba que já a tem. Há quem perca o ar emocionado. E há quem ganhe o céu apaixonado. Há quem morra enquanto vivo. Há quem viva enquanto morto. Há milhões de pessoas no mundo que desenvolvem teorias sobre tudo. E há quem simplesmente toque seu barco pelos córregos da vida. Há quem ache isso certo. Há quem pense que aquilo é errado. E fim.

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Análise de um solteiro do dia dos namorados

Por Juliana Ramiro

Acreditem. Minhas análises sobre o dia dos namorados não vem de hoje, não é o primeiro ano solteira, nem será o último. Acho que devia ter uns sete anos quando me dei conta de como o dia 12 de junho era legal. Não, não tinha namorados no “prezinho”, e com sete anos já estava na segunda ou terceira série. O fato é que, no dia 12, como em todos os outros dias, ia pro colégio pela manhã, de carona com minha mãe, ouvindo a Continental. O dia 12 tinha algo de especial, as músicas eram todas ótimas, românticas. Mal chegava ao colégio e já queria ir embora pra ouvir mais um pouco de Continental no carro e mais um pouco de Continental em casa.

Desde cedo, sempre tive um gosto musical esquisito. Passei minha infância ouvindo Fábio Jr com minha dinda, que morava do lado de casa; Roberto Carlos, quando ficava na vó; Maria Bethânia, o vinil Álibi, com minha mãe, e um pouco de samba e Simone, quando o pai chegava em casa. Sandy Jr e Leandro e Leonardo ouvia por conta própria, mas só as mais tristes, nada de “Vamos Pular” ou “Cumpadre e Cumadre”. Então, o dia 12 era o dia da minha grande realização musical. Era o dia que pegava uma fita K7 virgem, punha no rádio e gravava a programação inteira, que me servia de trilha, até o próximo dia 12. Nunca tive paciência para ficar trocando de estação. Era Continental durante o dia e, antes de dormir, a Eldorado e o seu Love Songs. As cartas dos apaixonados e a tradução das músicas eram sempre as melhores partes.

Um pouco mais crescida, já apaixonada pela cor vermelha, do meu signo, enchia os olhos no dia 12. Tudo era tão vermelho. Anúncios nos jornais, revistas, TV, as vitrines das lojas, os restaurantes. Nossa. Era um sonho, tão lindo quanto o natal, mas sem a figura esquisita do Papai Noel.

Um pouco mais crescida ainda, agora já tomada por amores platônicos ou reais, que nunca davam certo, no dia 12 era sagrado, pegava minhas economias, juntava um grupo de amigas solteiras e saía para jantar num restaurante que tinha na beira do rio, lá em Guaíba. No dia 12, a janta era servida a luz de velas, tinha um músico tocando violino, outro piano, e um terceiro que cantava. Conhecia o repertório inteiro e voltava para casa sempre com um gostinho de quero mais.

Nos anos seguintes, sempre solteira, mantive o programa. Não ia ficar em casa, como se aquele dia não fosse meu também. Estava namorando comigo, com a vida, com todo aquele vermelho sentimental. Mas, agora, ao invés de apenas me maravilhar com o encantamento da data, passei a olhar para os lados e analisar as pessoas que estavam ao redor. Por certo, faziam o mesmo comigo.

Confesso que observar os casais acabou com 50% do meu encantamento. Tantos ali, num dia daqueles, e com atitudes que nunca quis para mim. Os mais novos, com toda sua tecnologia, estavam frente a frente e mal se tocavam, talvez conversassem pelas redes sociais, um com o outro, ou, nem isso. O importante parecia o ato de sair no tal dia 12 e postar a melhor foto para os amigos virtuais verem – a disputa que quem ganhava mais “adoroooooo” na postagem. E o carinho, o beijo, o olho no olho?!?!? Pra quê?!?!!? Entre os mais velhos, observei o que sempre tive medo em qualquer relacionamento, estar com alguém por comodidade, costume. Não mexiam no celular, por que isso é falta de educação, no entanto, estavam mais preocupados com a comida, o garçom que demorava, o carro que estava na rua, os filhos que deixaram em casa. Não mantinham um diálogo entre si, não se olhavam, nenhum carinho se não na hora de ir embora, que o homem segurava a bolsa da mulher, enquanto pagava a conta, e ela fazia xixi.

Dava para contar nos dedos de uma só mão, os casais que realmente sentiam a vibração daquele vermelho, das músicas, das velas, sentiam alguma vibração entre si. Olhavam-se, curtiam a companhia e a existência do outro. Triste. Disso tudo, tiro duas questões. Será que estamos tão acostumados com relacionamentos por comodidade que não percebemos que exista um sentimento capaz de dar vida a uma saída pra jantar no dia 12 e a qualquer outro programa ao logo do ano? Será que só eu acredito neste sentimento?

Que venha o próximo dia 12 de junho. Estou preparada e VOCÊ?.