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A felicidade dança na minha sala

Por Juliana Ramiro

Gostaria de ter tido tempo para escrever antes no blog, mas ser feliz e me realizar profissionalmente têm me tomado um tempo danado. Se antes eu estava completa, agora além de completa estou certa, confiante, realizada e cheia de sonhos.

A vida é engraçada, porque a gente nunca pode ter tudo, embora eu seja daquele grupo de pessoas que tenta abraçar o mundo para não deixar passar nada. O mundo gira, e o meu parece uma roda de Fórmula 1, e quer saber, mesmo que eu tivesse um botão de pausa, um pedal de freio, não os usaria, não sei viver em câmera lenta, num ritmo arrastado. Ainda tenho tanto que quero fazer, que a vida, mesmo que eu ainda dure uns 80 anos, parece-me pequena diante dos meus sonhos.

Bom, mas o que estava falando mesmo era de perdas e ganhos. Ganhei tanto nos últimos meses. Um amor, uma visita, uma saudade, um passeio regado de emoções, parcerias e carinho, uma conversa importante, um novo plano, uma mudança próxima de casa, de cidade, de estado – estado local, civil, sentimental, profissional. E eu ainda quero mais, e tem mesmo muito por vir.

Nas perdas, acabou uma confiança, perdi uma companhia – alguém que queria mais tempo por perto. Perdi umas poucas lágrimas, que abandonaram meus olhos, também meu estado de fingimento, de fazer de conta que não me machuco, que não fico triste, que sou superior e quero sempre a felicidade de todos. Definitivamente não quero. Perdi a pose, mas me senti mais eu. Perdi o pé atrás que tinha com algumas pessoas, o medo de me deixar sentir esse carinho. Perdi o meu tempo ocioso em prol da criação. Vou perder um pouco do meu espaço, da minha intimidade, talvez a convivência diária com meus gatos.

Meus ganhos foram tão consideráveis e importantes, que vejo as perdas como algo necessário para administrar tudo isso dentro de vinte e quatro e mais vinte e quatro horas. Infelizmente, esse é o tempo que tenho.

Disso tudo tiro algumas lições.

Perder nem sempre precisa ser ruim, tudo é uma questão de como se encara a perda. Ganhar nem sempre é bom, quem está de dieta não gostaria de ganhar peso, por exemplo. A nossa vida precisa estar organizada para receber os ganhos, e claro, nem tudo a gente controla, mas se alguém possui pauzinhos para mexer, este alguém tem que ser você, se tratando da sua vida.

Aprendi, também, que a gente não precisa ganhar o maior presente, da embalagem mais brilhante. O que vale daquilo que se ganha é o que vai por dentro. E só se sabe o que vai por dentro, quando se aceita uma embalagem meia boca e se arrisca no interior. Falo disso, porque de um modo geral, não ganhamos o melhor, o construímos. No entanto, se tratando de pessoas, eu ganhei a sorte grande, meu presente veio lindo por fora e inigualável por dentro.

De resto, o que se ganha e o que se perde está relacionado com o que se planta e o quão disposto a regar a gente se encontra. Depois de tantas gratas surpresas acho que posso me considerar uma louvável mantenedora do meu próprio jardim.

Desculpem-me, mas a felicidade deixou de bater na minha porta, e agora dança na minha sala. Não sei ser triste, melancólica, poética, nostálgica com um presente tão perfeito..

Completo

Por Juliana Ramiro

Foi uma questão de encaixe
Nossas escolhas para aquela noite
O gosto pelas mesmas músicas
Nosso jeito de dançar
A nossa dança

Depois veio o primeiro beijo
E um sucessivo encaixe de abraços
O carinho
O desejo
A luta contra a tecnologia
Uma única vontade: a de não perder contato

A primeira mensagem
A primeira ligação
A primeira janta
Mais uma sessão de timidez
Outro encaixe de beijos

Abraços…
Todo o nosso carinho
Uma noite sem dormir
Uma manhã contando histórias

Um convite sem pretensões
Mais um encaixe perfeito
Tímidas declarações
Horas no telefone

Um convite para ouvir
Um pedido para cantar
Uma linda música na história

Olhos que brilham e não se descolam
Mais uma noite de encaixe

A dificuldade de se soltar
A vontade de se ver
O carinho cada vez maior

Mais conversas
Mais declarações
O presente encaixado
Um encaixe de sorrisos
Um encaixe de pensamentos
Um encaixe de vontades
O nosso encaixe perfeito

 .

Love In The Afternoon


Por Juliana Ramiro

Quando a gente resolve passar por uma mudança, seja interna ou externa – como trocar os móveis e a distribuição deles na casa -, a gente sempre se depara com o novo e resgata coisas que ficaram no passado. Esquecidas, perdidas, ocultas, ocultadas. Numa mudança é inevitável viver o novo e reviver o velho, um pouco do que fui, do que tive, do que gostei.

Um título em inglês, uma letra em português. Love In The Afternoon, interpretada pelo grande Renato Russo, faz parte do meu passado. Desde muito nova escuto essa música e ela sempre me trouxe um único sentimento: medo.

Medo de morrer jovem de mais, de perder alguém que gostava muito, de sentir muita saudade, de ter lembranças de tempos felizes, que nunca vou poder resgatar. Medo da vida passar ligeira, de ser levada pelo vento e não saber direito o que foi feito da minha juventude. Se realmente fiz as escolhas certas. E se elas vão me levar pra onde achei que iria.

“Quando eu lhe dizia:
“Eu me apaixono todo dia
E é sempre a pessoa errada.”
Você sorriu e disse:
“Eu gosto de você também.”
Só que você foi embora
Cedo demais…
Eu continuo aqui
Com meu trabalho e meus amigos
E me lembro de você em dias assim
Dia de chuva, dia de sol
E o que sinto não sei dizer.”

Hoje, um novo pensamento me surgiu. Nunca tinha pensado que esta música poderia comportar a narrativa de uma paixão que terminou, não exatamente pela morte, porque as pessoas não precisam perder a vida pra ir embora, mas porque elas morrem do jeito que foram idealizadas por tal paixão.

A gente se apaixona por alguém que imaginamos ser alguém. Costumo pensar que se a gente conhece muito uma pessoa, se torna incapaz de se apaixonar por ela. A paixão vem sempre antes. A gente se apaixona por aquilo que queremos ver, por aquilo que pensamos ser, por aquilo que idealizamos ser possível acontecer.

E claro, embora com o sangue mais frio a gente consiga perceber que foi exatamente isso que aconteceu, quando o sangue ferve a gente cai no mesmo erro. É a mesma paixão que mudou de remetente. E os mesmos cacos que foram deixados para trás.

Às vezes dá saudade? Claro. E em mim dói. Principalmente por saber que minha obra, quem criei para me apaixonar, diante dos meus olhos, NUNCA MAIS SERÁ A MESMA.

E o que sinto? Não sei. Só lamento por teres mudado para meus olhos cedo de mais, cedo demais..