Um papo sobre o Enem e o mimimi

enem

Todo mundo apavorado com as notas na redação do ENEM e eu proponho que avaliemos os fatos. Como sempre, vou por itens:

1 – WatsApp, Facebook e etc têm mensagem de áudio e vídeo não por acaso.

2 – Zerar uma redação não diz da índole das pessoas, nem de suas capacidades reais. Conheço vários BONS profissionais que não sabem enviar um e-mail coerente e organizado. Também conheço ótimos cidadãos que não sabem nem assinar o próprio nome.

3 – Tem um pesquisador de educação que defende que qualquer tipo de prova só serve para mostrar o quanto alguém não sabe sobre determinado tema. E o que se sabe? Isso não interessa.

4 – Não tive acesso aos dados dessa pesquisa, talvez porque ela não exista. Então, para o povo que tá dizendo que os que zeraram a redação foram os mesmos que votaram na Dilma – Menas, bem menas, por favor!!!

5 – Não podemos esquecer do momento que vivemos. A valorização do errado. O CDF é o nerd, que não tem amigos e só é lembrado quando os demais precisam de cola. O popular da turma é sempre o que tira nota baixa, não faz o tema.

6 – Quem faz o ENEM, na sua maioria, são jovens. Qual o perfil de jovem que temos hoje? Tem cara com 40 anos que se diz jovem e ainda mora com os pais. Temos um “retardo” cultural-social. Não posso afirmar, mas posso suspeitar que muitos desses jovens que prestaram o ENEM foram pressionados pelos pais, professores e não entendem a importância do exame.

7 – Por fim, o calor. Fui convocada para fazer aquela prova que testa as faculdades e gera uma nota. Estava desgostosa com a indicação, dentro de uma sala sem ventilador, com minha pressão no pé. Terminei a prova 10 minutos depois do início. É possível que tenha zerado. Mas o que isso diz sobre o meu país, sobre a forma como vejo o mundo e o futuro que me espera?

8 – Por fim do por fim, parabéns para você que chegou até aqui. São poucas as pessoas que leem mais de 3 linhas de qualquer coisa. E isso não é burrice, nem falta de vontade, isso é reflexo da sociedade do imediatismo, da pós-modernidade, dos meios digitais, do excesso de informação, etc, etc, etc.

Leia matéria do Jornal O Globo clicando aqui!.

Despedida

Não sou boa em despedidas. Na falta do que dizer, acabo fingindo que estou aqui quando na verdade já estou de partida. Sinta culpa pelo prazer que me dá seguir viagem, principalmente quando lembro que cada ida é uma vinda que fica para trás. E mesmo que a gente diga que a casa vai ficar arrumada, ela jamais será a mesma. Aquela bagunça do dia a dia é que dá o colorido da morada. A organização jamais substituirá uma presença.

Nessas de fingir que estou onde não estou acabo economizando meus abraços e poupando palavras de carinho, que talvez explicassem o que sinto. Faço isso por proteção, pois a cada despedida perco um pedaço de mim. Ganho novos, é verdade. E é verdade também que, se desse, reteria todos esses pedaços e os levaria comigo, junto com as minhas economias sentimentais.
Quando ouço pessoas falando das suas viagens pelo mundo sempre penso: isso não é para mim. Das poucas vezes que saí de casa e me arrisquei sempre conheci pessoas que quis trazer comigo. Para mim, viajar é dividir o coração entre um mundo novo e o meu. Não tenho coragem para isso.

 Agora é hora de olhar para frente.

.

To taste the sweet, I face the pain

“I broke my heart for ev’ry gain
To taste the sweet, I face the pain
I rise and fall, yet through it all this much remains”

Muitas músicas abordam o mesmo tema – o tal do levantar e cair, do superar a si mesmo, do arriscar. Ouvindo “One moment in time”, um clássico da Whitney Houston, interpretado por uma das vozes do The X Factor de 2014, fiquei me perguntando o que significa levantar e cair e quem de fato se permite cair.

Pra mim, só supera a si mesmo quem admite-se quebrado. Como diz a música, só prova o doce da vida quem enfrenta o sofrimento e o amargo de viver. Mente quem diz que a vida pode ser sempre doce. Também, que graça teria? A vida é feita de doces e azedos. E só valorizamos o doce quando somos capazes de aprender com o azedo. Quem não se admite superável, não constrói uma nova forma de ser. A dificuldade de admitir-se quebrado está na tênue linha entre levantar e nunca mais conseguir juntar os cacos. Tem gente que cai, quebra e não descobre a cola.

Entre os quebrados que nunca se colam e aqueles que quebram, colam-se e tocam o barco existe algo de louvável em comum – eles tentaram. A pior existência, e aqui é um julgamento de quem diariamente é julgado, é a mera existência. Viver é quebrar. Quem não se deixa quebrar, ou não se admite assim, apenas existe e nunca chegará ao doce. O doce da vida não é para crianças, mas para quem cresce, cresce por dentro e cresce por fora. Talvez os “existentes” forjem o doce como forjam a própria vida. E vivem tão amargos que são incapazes de ignorar ou encarar com leveza a vida de quem quebra, de quem tenta. O preconceito mora na indestrutível casa dos eternamente amargos.

 .