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Sobre a reforma da educação.

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Sou de uma família de professoras e vivi a educação sempre muito de perto. Mal aprendi a escrever e calcular e já ia, por falta de recursos e de onde ficar, para as aulas da minha mãe na faculdade de pedagogia. Ficava lá convivendo com o ambiente acadêmico, o aprender e o Paulo Freire (que tanto lembro e gosto).

Quando pequena sempre fui opinativa (e assim continuo) e, como toda criança, questionava o tanto de coisas que a gente tinha que aprender no colégio. A forma desse aprendizado eu ainda questiono, mas o tal tanto de coisas, que na época não via sentido, hoje compõe em mim um movimento de libertação. Posso não ter aprendido grande coisas nos poucos períodos que tive de filosofia e sociologia, mas soube que as disciplinas existiam e hoje são áreas do saber que servem de base inclusive para o texto da minha dissertação no mestrado em Design.

Fui uma péssima aluna de artes, até hoje não sei recortar, não pinto dentro das linhas e nunca saí dos bonecos de palito, mas estudei sobre as cores, as formas, um pouco de história e tive contato com coisas que achei que nunca iam me servir para nada. Hoje em dia sou paga para fazer o que? Direção de arte, edição gráfica, fotografia. A vida não é uma linha reta, sempre digo.

O que quero dizer com isso é que o aprendizado e a educação nunca são demais. As vezes a gente acha que sim, mas garanto que não. Reduzir o ensino médio a coisas com imediata utilidade (ainda mais a proposta vindo de quem veio) tem apenas quatro objetivos: afastar, mais uma vez, os jovens pobres das universidades, diferenciando-os dos jovens vindos de escolas particulares; rebaixar ainda mais professores e alunos, que não tiveram suas opiniões ouvidas tampouco consideradas para a composição dessa reforma golpista, ignorar a centralidade da edução no desenvolvimento de um povo e uma pátria e focar o ensino brasileiro em formação de mão de obra.

Paulo Freire dizia que a educação como prática tem o poder de libertar o sujeito. O que essa reforma prevê? O aprisionamento de uns e a desigualdade entre esses e outros.

E lá vem o aniversário…

feliz_aniversario_filho

Fazer aniversário é uma coisa que mexe comigo. É tipo quando vira o ano, só que é a minha virada particular, que nesse ano gostaria, mais do que nunca, que pudesse ser uma virada coletiva. Já faz tempo que comecei a entender o mundo como um lugar que a gente dá e recebe, um ambiente de trocas. Alguns dirão que nem sempre a gente recebe o que dá, ou vice e versa. Mas esse é um pensamento muito simplificado de algo bem mais complexo.

A vida não é lógica, não pode ser esperada como o resultado de um cálculo matemático – dou uma banana, recebo uma banana. Talvez por isso goste tanto da vida e tão pouco da matemática.

Desde criança a mãe e a vó, em particular, ensinaram-me que Deus (ou a força que você que está lendo este texto acredita) nunca nos dá fardo maior do que aquele que sabe que podemos carregar. Não é exatamente nisso que acredito, mas tal doutrina me fez, no fundo, sempre ter uma visão positiva das coisas. Eu sou aquele tipo de gente que sempre acha que existe um caminho, uma forma, uma oportunidade de realizar coisas boas, meus sonhos, os sonhos que tenho para o mundo. Sou do tipo que dá conta, que faz dar, assumo para mim a responsabilidade e vou à luta.

Assim, meu texto de aniversário tem três objetivos. O primeiro deles é jogar para o universo a mensagem de que EU QUERO CONTINUAR SONHANDO E ACREDITANDO. O dia que não puder sonhar e ter fé na possibilidade das coisas, pode apostar que desisti de mim, da vida, de tudo. Segundo o poeta, estarei quase viva, isto é, morta. E desse jeito vivo é que quero que o mundo seja mais.

É cansativo ver gente tão nova (e nem tanto) que desistiu da vida, que se acomodou com a forma como as coisas são, que fala de tudo na terceira pessoa, que não puxa para si a responsabilidade das coisas. Eu não debato política, não falo sobre religião, não gosto de história, não acredito que o mundo tenha jeito. Parem de emitir essa apatia melancólica, de reproduzi-la, de ensiná-la para seus filhos. Ou ao menos pensem no que esse comportamento contribui. Pensar já ajuda.

Meu segundo objetivo é agradecer pelo que tive e tenho até aqui. Dei e recebi amor, vive com dignidade, busquei conhecimento, debati e defendi meus ideais, encarei a vida como uma possibilidade constante de aprender e ensinar. Em especial este ano, a vida foi um desafio importante, pois dei as caras para valer, apanhei um pouco, mas estou onde queria estar. Estou no mestrado, estou na minha casa, estou com a minha família (a reconheçam como família ou não). Desafio quem me lê a dar as caras também. Vá atrás dos seus sonhos. Minha “prof” do Pilates diz que é impossível ser feliz com dor. Ouço isso e logo penso na infelicidade e na dor que sentem aqueles que nem sonham com medo de não realizar. Eu já senti essa dor. Por isso peço que sonhem e deixem sonhar. Amem e deixem amar.

E o meu terceiro pedido/sonho/responsabilidade é que nós todos possamos buscar sermos melhores, não uns melhores que os outros, mas todos melhores para o lugar onde vivemos. Que possamos refletir sobre o que estamos produzindo e reproduzindo na vida, de uma forma analítica mesmo. Eu acho que o mundo tem jeito, o que nos falta é pôr a mão na consciência e entendermos que nossas falas, aquilo que construímos no dia a dia, mesmo quando a gente pensa que optou por não participa das coisas, influencia não só a nossa vida, mas a de todo mundo que está vivendo neste momento.

Tudo que escrevi até aqui foi um acumulado de clichês, eu sei, mas são clichês que muita gente conhece, pouca gente pratica. Por fim, se a gente faz pouco caso da vida, ela pode nos retribuir com bananas. Isso não é matemática, é vida que segue. E que venham meus 28 quase 30.

Foi muito Teorema de Pitágoras para zero educação político-reflexiva.

Foi muito Teorema de Pitágoras para zero educação político-reflexiva. E isso faz de nós, hoje, de modo geral, massificado e preocupante, uma sociedade criança. Criança que derruba o castelinho sem mísera responsabilidade, que briga com o coleguinha que pensa diferente, que não sabe discutir sem rompimento, que separa o sócio do histórico, que ignora conceitos, que atira o brinquedo longe quando ele deixou de agradar, que empurra aquilo que o incomoda, que bate panela quando sua vontade não foi atendida, que não respeita o outro, que não divide os brinquedos, que não sabe esperar e que acha que o mundo gira ao redor do próprio umbigo e, principalmente, que dorme, uma noite inteira de sono, como se tudo que realizasse no dia não fosse nada mais do que coisa de criança. Sabemos que em qualquer triângulo retângulo, o quadrado do comprimento da hipotenusa é igual à soma dos quadrados dos comprimentos dos catetos, mas não conseguimos entender que um somatório de fatos históricos iguais tendem a resultar no mesmo fatídico desfecho. Que as bocas que hoje se enchem para criticar tudo e todos, amanhã serão, indiferentemente das bocas, proibidas de qualquer ação. Eu temo por nós, que, mais uma vez, mesmo com o avançado do tempo, seguimos os mesmos, frágeis crianças tão ou mais errantes que nossos pais.